O verdadeiro valor dos objectos

Um objecto de culto é aquele que nos tolda o discernimento, é aquele que temos que ter, ou sim ou sim, é aquele que gostamos de mostrar.

O nosso quotidiano é definido pelo uso de objectos. Desde os objectos mundanos aos de culto e até mesmo os viciantes, são estes que circunscrevem as nossas decisões e acções, e muitas das vezes até, conseguem ajudar a definir traços da nossa personalidade.

Os objectos mundanos serão os mais importantes desta tríade. Os que usamos, partimos e substituímos. Serão, diria eu, os mais valiosos para o nosso dia-a-dia. Uma tesoura ou um cabide, qualquer um serve. Partimos e compramos outro. É só e apenas a sua função que os define. Não nos marcam. Não nos fazem amá-los, querê-los, usá-los. Usamo-los porque tem que ser e não há nada errado com isso, mas quando o culto e o vício começam a fazer parte da equação, aí o caso muda de figura.

Tome-se como exemplo uma cadeira ou uma secretária. Na maior das vezes, qualquer uma serve. Desde que sirva a sua função e junte nas suas características alguma durabilidade e resistência. E será isso que procuramos? Muitos de nós não. A secretária, a cadeira e até os talheres para alguns de nós são objectos de culto. Encontramo-los, queremo-los e perseguimo-los até os ter. São aqueles que significam. Ou porque são herança de família ou porque são só especiais por alguma razão. Pelo autor, pela época, pelos materiais, pela inovação. Pouco importa. São objectos que queremos, só porque sim. Porque nos marcam antes de os termos e marcarão mais ainda quando os tivermos.

São estes objectos os meus favoritos, os que melhor personificam o culto e o vício.

São os que nos definem, que nos marcam; são os que realmente nos importam. Um objecto de culto é aquele que nos tolda o discernimento, é aquele que temos que ter, ou sim ou sim, é aquele que gostamos de mostrar. Melhor, é aquele que ao ser mostrado, nós próprios os estamos a ver, a observar, a adorar. São objectos que, se tivessem vida, não admitiriam um penálti claro contra a sua equipa, veriam uma agressão para vermelho exclamando que foi casual ou carga de ombro.

Culto é personalidade, culto é quase vício, mas sem o ser. Ou será que é? É ter já a colecção toda da Apple e comprar ainda outro computador, aquele, o primeiro... de 1984. É ter uma Nintendo Switch e emoldurar o primeiro Game Boy de 1989, só porque sim. Para podermos olhar, adorar e acima de tudo relembrar. É ir ao sótão do pai procurar o Spectrum para poder arrumar ao lado do Macintosh e continuar assim a viciante colecção de objectos de culto, pois o vício, esse malandro, é aquele que se tivesse vida própria via um jogo até ao fim. Mesmo quando já está a perder 5-0 aos 15 minutos!

Pois o vício faz-nos acreditar que o resultado vai mudar!

O autor escreve em desacordo ortográfico.

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