Temperaturas altas no Pólo Norte espantam cientistas
O recuo dos gelos causado pelo aquecimento global está por trás do inusitado período quente no Inverno Árctico, onde estão apenas oito graus negativos.
Até ao equinócio da Primavera, a 20 de Março, o Sol não se levanta no Pólo Norte. Pelo calendário, devia ser a época mais fria do ano no ponto mais a Norte da Terra. Porém, não é isso que os termómetros estão a registar.
A estação meteorológica Cape Morris Jesup, na Gronelândia, a cerca de 650 km a sul do Pólo Norte, já registou 61 horas seguidas de temperaturas acima dos zero graus Celsius, o que está relacionado com um raro episódio de recuo dos gelos, bem no meio do período de escuridão árctica.
O gelo do oceano Árctico está em valores historicamente baixos para o fim de Fevereiro: 14,1 milhões de km2, de acordo com o Centro Nacional de Neve e Gelo dos Estados Unidos. É cerca de um milhão de Km2 a menos que o normal, ou mais ou menos o tamanho do Egipto.
“Nunca aconteceu de uma forma tão extrema”, disse à Reuters Ruth Mottram, climatóloga do Instituto Meteorológico da Dinamarca. O calor está a chegar ao Árctico através do Atlântico e do Estreito de Bering, e faz descer o ar frio para Sul. As temperaturas na região do Árctico estão agora 20 grausCelsius acima do normal – são de oito graus negativos, de acordo com os cálculos do instituto dinamarquês.
A redução durante muito tempo do gelo no oceano Árctico – causada pelo aquecimento global – deixa a água que está por baixo exposta, a libertar calor para a atmosfera. Isso pode perturbar as correntes de jacto, que são como rios de vento na atmosfera, a alta atitutde, tiras finas e com correntes de alta velocidade que podem afectar os padrões climáticos.
“A corrente de jacto torna-se mais ondulada, o que significa que mais ar frio pode chegar a Sul, e mais ar quente pode penetrar a Norte”, disse Nalan Koc, director de investigação Polar Norueguês, citado pela Reuters.
Estes períodos quentes no Árctico, que antes eram raros, estão a tornar-se mais comuns. Um estudo publicado em Julho de 2017 demonstrava que desde 1980 os “invernos quentes” se tornaram um fenómeno cada vez mais frequente, mais duradouro e mais intenso. “Aconteceu quatro vezes entre 1980 e 2010, mas aconteceu em quatro dos últimos cinco anos”, afirmou Robert Graham, do Instituto Polar Norueguês, ao Washington Post.