Jogos Olímpicos de Inverno
O dia em que a pompa e a circunstância norte-coreana chegaram à Coreia do Sul
Num dia, um ferry trouxe quase centena e meia de músicos norte-coreanos para actuar na Coreia do Sul à boleia dos Jogos Olímpicos de Inverno. Um dia depois, esta quarta-feira, mais de 200 elementos da prometida claque da Coreia do Norte atravessaram a fronteira com o país a sul para se prepararem para a cerimónia de abertura.
Há mais de 16 anos que a entrada de navios norte-coreanos nos portos da Coreia do Sul estava barrada mas esta semana o Mangyonbong 92 chegou ao porto de Mukho com uma “carga” particular: os 140 elementos da orquestra que irá actuar no país a propósito dos Jogos Olímpicos de Inverno.
À cabeça desta comitiva musical está a cantora Hyun Song Wol, que é também membro do Comité Central do Partido Popular da Coreia. A orquestra enviada por Pyongyang tem duas actuações previstas: uma na quinta-feira em Gangneung, próximo da cidade que acolhe os Jogos, Pyeongchang, e outra no domingo em Seul.
A última vez que este ferry cruzou águas sul-coreanas tinha sido em 2002, quando transportou uma claque de apoio da Coreia do Norte para os Jogos Asiáticos, que tiveram lugar na cidade de Busan. O navio foi uma oferta dos coreanos radicados no Japão ao “Presidente Eterno” Kim Il-sung por ocasião do seu 80.º aniversário, em 1992.
À chegada, o Mangyonbong 92 e os seus passageiros foram recebidos com protestos. “Eles vêm para a Coreia do Sul para nos enganar”, afirmou à agência Reuters um manifestante de 67 anos. À sua volta, outras pessoas empunhavam bandeiras sul-coreanas e dos Estados Unidos, enquanto cantavam o hino da Coreia do Sul. Outros mostravam cartazes com o rosto do líder norte-coreano Kim Jong-un riscado por uma cruz vermelha.
O ministro sul-coreano para a Unificação afirmou que a decisão de suspender temporariamente a proibição aos navios norte-coreanos serve para “apoiar uma realização bem-sucedida dos Jogos Olímpicos de Inverno”, que se iniciam esta sexta-feira. É, ao mesmo tempo, um sinal de arrefecimento das relações tensas que se têm verificado entre os dois países nos últimos meses com os ensaios dos programas balísticos e nuclear de Pyongyang.
Nesta edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, os dois países vão desfilar na cerimónia de abertura sob a mesma bandeira da Coreia unificada. Participarão ainda com uma selecção conjunta na modalidade feminina de hóquei no gelo.
Esta quarta-feira, uma outra comitiva norte-coreana chegou à Coreia do Sul, desta vez por autocarro. No total, 280 pessoas passaram a fronteira, incluindo o ministro do Desporto da Coreia do Norte, 26 atletas de taekwondo, três elementos do Comité Olímpico norte-coreano, 21 jornalistas e, acabando por roubar as atenções, 229 cheerleaders. Esta claque, que Pyongyang prometeu enviar em meados de Janeiro, deverá actuar nesta edição dos Jogos Olímpicos, a começar desde logo pela cerimónia de abertura.