Pró-Rússia Milos Zeman vence presidenciais na República Checa
O já chefe de Estado obteve 52,9% dos votos e o seu adversário, Jiri Draho, 47,8%.
Os checos reelegeram Milos Zeman, que se manterá por mais cinco anos na presidência do país, cargo que ocupa desde 2013. Obteve 51,55% dos votos na segunda volta das presidenciais que decorreram na sexta-feira e durante parte de sábado, segundo a agência noticiosa CTK. O seu adversário, o académico Jiri Drahos, conseguiu 48,44%.
Zeman, que é um político veterano, arrasta consigo uma série de qualificativos — é populista, nacionalista, eurocéptico e pró-Rússia. Para Drahos os analistas usam independente, liberal e europeísta. Serviram eles — os muitos de Zeman e os três de Drahos — para explicar que nesta eleição presidencial os checos tinham dois caminhos opostos em opção. Estando também em causa o futuro da Europa, ou pelo menos das relações na União Europeia.
Apesar de na República Checa o Presidente ter um papel quase ornamental, ao optarem por Zeman os eleitores decidiram também indicar quem querem a gerir o Governo. O Parlamento de Praga aprovou recentemente uma moção de censura ao primeiro-ministro Andrej Babis.
Babis, um empresário multimilionário, criou o seu Partido dos Cidadãos Descontentes para que fosse uma plataforma anticorrupção e contra a forma tradicional de fazer política. Porém, tornou-se um aliado forte de Zeman. Perdeu imunidade devido a um caso de fraude com fundos europeus, mas o seu partido foi o mais votado nas legislativas de Outubro de 2017, mas sem maioria.
Segundo a imprensa checa citada pela Reuters, há um pacto entre Zeman e Babis — o primeiro-ministro seria reconduzido se o Presidente fosse reeleito. A vitória de Milos Zeman arrasta, pois, o risco de trazer uma crise política na República Checa, se o Parlamento se revoltar perante um governo minoritário.
Zeman, que é um dos últimos representantes da era comunista da Europa do Leste, ganhou sobretudo devido ao seu discurso anti-imigração e antimuçulmano. “Travem a imigração e Drahos”, diziam os seus cartazes.
Apesar de a República Checa não atrair imigração e refugiados — recebeu menos de 300 pedidos de asilo e só aceitou receber 12 dos 2600 refugiados que lhe foram atribuídos pela União Europeia —, foi um discurso vencedor. Zeman chamou “religião de ódio” ao islão, afirmou que os muçulmanos são incapazes de se integrar e falou numa “invasão” da Europa, como fez o primeiro-ministro húngaro Viktor Órban.
A vitória de Zeman, apesar da curta margem, legitima o lado que a República Checa já tinha começado a escolher dentro da União Europeia. O lado dos países em confronto aberto com Bruxelas devido às políticas de imigração e integração de refugiados, mas também devido a novas leis (como a que submete a Justiça à política na Polónia). Bruxelas ameaçou checos, húngaros e polacos com sanções, entre elas a perda de direito de voto.
Neste embate, a Hungria chegou a ameaçar juntar-se a outros países da UE como a República Checa para abrir um debate sobre as sanções à Rússia, devido à anexação da Crimeia. Zeman — que viaja com frequência Moscovo — considera que a anexação do antigo território ucraniano não constitui um problema e que as sanções devem ser abolidas.
Ainda os votos não estavam todos contados quando o cientista Drahos — foi presidente da Academia das Ciências checa e fala em Emmanuel Macron e Angela Merkel, quando o adversário prefere Donald Trump, Vladimir Putin e Xi Jinping — concedeu a derrota. Na primeira volta Zeman ficou à frente por larga margem (38,9% contra 26,4%) mas sem maioria. A sua proposta — e de Babis; Draho disse numa entrevista ao The Guardian que se vencesse Babis não seria primeiro-ministro — voltou a prevaleceu.
Disseram os analistas antes mesmo da eleição que estas presidenciais iriam provar que a República Checa se encontra profundamente dividida neste momento da sua História. “É a fractura mais profunda em 30 anos”, disse a analista política Ania Naisarova, citada pelo jornal espanhol El País. Os mais novos e urbanos votaram Draho. Os mais velhos e a população rural, os que têm medo da imigração, os que desconfiam das instituições europeias e os que não querem um certo tipo de integração, votaram Zeman.