Estados Unidos enfrentam grave crise opióide

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O rádio anuncia nova emergência. A vítima está inconsciente, sem reacção. Apresenta dificuldades respiratórias e há suspeitas de overdose. O ruído da sirene acompanha o movimento vertiginoso da ambulância até ao local. Os paramédicos da Cataldo Emergency Service esperam encontrar "um homem que perdeu os sentidos enquanto conduzia, um consumidor adolescente ou idoso que desmaiou num parque público ou, em último caso, um cadáver num quarto de hotel rodeado de agulhas e pó", descrevem.

 

Na cidade de Boston, nos Estados Unidos, onde se vive a maior crise opióide dos últimos anos, é com encontros desta natureza que começa geralmente o dia do grupo de paramédicos da empresa que presta o serviço ao Estado norte-americano. Em Massachussets, em 2016, foram registados 21 mil casos de overdose — números que contrastam com os registados em 2013, que davam conta de cerca de oito mil ocorrências. Dave Franklin, coordenador do serviço de emergência, garante à Reuters que se vive uma nova realidade: "Quando comecei, eram raros os casos [de overdose por opióides]. Havia um ou dois, aqui e ali. Agora, há bastantes." Nos Estados Unidos, de acordo com o relatório de 2017 da Drug Enforcement Administration (DEA), há 91 pessoas que perdem a vida, por dia, devido ao abuso de substâncias opióides — número que ultrapassa já o de mortes causadas por armas de fogo e acidentes de viação. O problema não está, no entanto, circunscrito a Massachussets. Entre 2016 e 2017, as mortes por overdose aumentaram 21 por cento em todo o país, motivo pelo qual Donald Trump declarou estado de emergência de saúde pública.

 

Os analgésicos de prescrição médica, a heroína e as drogas sintéticas como Fentalin — um analgésico 50 a 100 vezes mais potente do que a morfina — são os principais causadores desta crise. "É difícil testemunhar tudo isto, é devastador", disse Domenic Corey, paramédico. "Vemos pais destroçados, com um olhar de derrota, que perderam alguém que era importante para eles. Nem consigo imaginar. Vemos esse cenário vezes sem conta."