Arquitectura
Em Ovar, passado e presente erguem uma casa
Se caminharmos apressados pela Rua Doutor José Falcão, em Ovar, talvez o olhar não nos desvie para esta casa que, à partida, se assemelha a todas as outras. Desfilam, coladas umas às outras, e desenham uma herança de séculos em cada traço e detalhe. Na recuperação desta casa, esse foi um dos propósitos — que se vê no azulejo verde e branco que a reveste e na caixilharia azul, a proteger a janela tipicamente portuguesa. Depois, inclinamos a cabeça e a vista alcança os dois mirantes de madeira, em cima, revestidos em zinco e com um toque de modernidade.
É a “lógica de continuidade” de Nelson Resende, o arquitecto responsável pela nova vida desta casa, a ditar os contrastes estéticos que ali se encontram. Segundo o arquitecto, há uma “repetição de modelo urbanístico de matriz frequente”, que também se lê e vê no interior da casa. Um desafio que contemplava “estados de conservação díspares” de diferentes espaços da casa, mas que resultou numa simbiose entre os traços das soluções arquitectónicas actuais e o passado, sem cair no cliché da “musealização”. A coerência e a neutralidade confluem para, no fim, conferirem “carácter” à casa. É como ler um conto antigo e acrescentar-lhe um ponto contemporâneo — no fim, resulta sempre.
Para além de Nelson Resende, também João Almeirante (estrutura e infra-estrutura), Nuno Leite (estrutura eléctrica) e António Souto (construção) ergueram esta casa. As fotografias são de João Morgado.