Exposições: o melhor do ano
Escolhas de José Marmeleira, Luísa Soares de Oliveira e Nuno Crespo.
10
Madonna.
Tesouros dos Museus do Vaticano
MNAA, Lisboa.
O MNAA trouxe a Portugal uma selecção de qualidade de obras dos museus do Vaticano, que tinham por tema o culto a Maria. Ocasião para apreciar obras notáveis, de Rafael, Pinturiccio, Fra Angelico e outros, num arco temporal que terminava com um pequeno e soberbo Chagall que abordava o tema do ponto de vista da cultura judaica. L.S.O.
9
Afasia tática
Jonahan Uliel Saldanha
Cuturgest, Porto
Partindo da Paixão de Cristo, o artista construiu um dispositivo artístico-metafísico e deu origem a um lugar sensível distante da razão, da palavra, da narrativa. N.C
8
Esculturas
Zulmiro Carvalho
Galeria Quadrado Azul
Confirmou-se a actualidade entre a obra de Zulmiro, escultor fundamental na arte portuguesa da segunda metade do século XX, e a produção americana e britânica da época. Desenvolvendo uma relação única com o espaço interior das peças e o lugar expositivo, as obras declinavam um conceito híbrido entre pintura, escultura e desenho. L.S.O.
7
Orientalism and Reverse
Tatiana Macedo
Galeria Carlos Carvalho
Apresentou uma exposição belíssima, dando a ver coisas que passariam despercebidas ao nosso amor. Coisas arrebatadas ao fluxo do mundo e, no entanto, fabricadas por uma técnica, movendo-se entre a verdade e a beleza, a observação do documento e a sedução. Que coisas foram essas? Imagens fotográficas, realizadas em Xangai, em 2007, cortinas, reflexos, tecidos, cores, objectos, atmosferas, silhuetas. J.M.
6
Curar e Reparar
Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra
CAPC - Círculo de Artes Plásticas de Coimbra,
Num momento de destruição de ameaça do mundo, falar de cura e reparação é uma urgência. Uma exposição notável que mesmo lidando com as aflições do mundo presente não desiste da arte enquanto experiência humana fundamental. N.C.
5
Um campo depois da colheita para deleite estético do nosso corpo
Alberto Carneiro
Culturgest, Porto
Uma das peças fulcrais da obra do escultor falecido em Abril não era refeita desde 1976, devido à estreita dependência dos ciclos da natureza, hoje desaparecidos com o fim dos sistemas tradicionais de agricultura. Coube à Culturgest acabar com essa inevitabilidade. O espaço expositivo encheu-se de medas de centeio, convidando o espectador para uma apreciação da obra com a totalidade dos seus próprios sentidos. L.S.O.
4
Ana Hatherly e o Barroco
Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa
Artista plástica mas também investigadora da literatura, conferencista e escritora, produziu uma obra diversificada que foi aqui estudada pelo curador Paulo Pires do Vale à luz do barroco – não apenas o período histórico pelo qual a artista mais se interessou, mas também como categoria de pensamento que permite reunir no mesmo espaço a dobra do excesso formal e o rigor da consciência do tempo. L.S.O.
3
Os animais que ao longe parecem moscas
João Maria Gusmão e Pedro Paiva
Oliva Creative Factory, São João da Madeira
Uma experiência marcada pelo espanto, o humor e a perplexidade. Assim se poderia descrever a exposição que João Maria Gusmão e Pedro Paiva apresentaram na Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory, em São João da Madeira. A dupla interrogou poeticamente o sentido que estabelecemos com os objectos. J.M.
2
Splitting, Writing, Building, Drawing, Eating
Gordon Matta-Clark, Cutting
Culturgest, Lisboa; Museu de Serralves, Porto
Um artista fundamental para muitas gerações. As exposições que lhe são dedicadas são arriscadas porque, dada natureza performática e efémera que possuem, obrigam a um mergulho documental muitas vezes hostil ao espectador. Risco vencido. N.C.
1
A reserva das coisas no seu estado latente
Fernanda Fragateiro
Fundação Eugénio de Almeida, Évora
O ano que finda não se resume, para Fernanda Fragateiro, à Reserva das Coisas no seu Estado Latente – a artista participa na Bienal de Coimbra, até dia 30, e apresentou, no Verão, trabalhos no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. Mas a exposição na Fundação Eugénio de Almeida, com a curadoria de Adam Burak, marcou indelevelmente 2017. E por duas razões. Porque, com inteligência, imaginação e subtileza, soube mostrar a arquitectura, o livro e a palavra escrita enquanto tópicos do universo da artista; o espectador pôde descobrir e activar sentidos latentes, percepcionar a materialidade das coisas, interrogar-se sobre o processo de realização das obras. Mas também porque nos desafiou a questionar e a enfrentar o esquecimento a que foram votadas mulheres como Lilly Reich ou Otti Berger. Tributo a vozes silenciadas pelas narrativas dominantes da história da arte, A Reserva das Coisas no seu Estado Latente, continua, na memória de muitos, a despertar ecos de utopias e promessas. J.M.