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O momento da verdade para Vieira da Silva

Há várias dúvidas, legítimas, no caso Raríssimas, e o ministro deve esclarecê-las cabalmente. Agora. Sem rodeios. Para brincadeiras, já basta.

Uma semana depois de ter dado uma conferência de imprensa defensiva e atabalhoada sobre o caso Raríssimas, vai o ministro Vieira da Silva esta segunda-feira ao Parlamento responder às dúvidas dos deputados. Que coincidem, em grande parte, com as dúvidas dos portugueses e com as questões levantadas em vários órgãos de comunicação social.

Para os que vêem neste caso apenas a oportunidade para nova demissão no governo, tudo se centrará nas eventuais culpas que Vieira da Silva tenha no estado a que se chegou na instituição. Instituição da qual, é bom lembrar, foi vice-presidente da assembleia geral de 2013 até 2015, mesmo até à véspera de tomar posse no ministério. Se isto não faz dele culpado do que quer que seja, obrigava-o pelo menos a ser particularmente vigilante e atento – se o seu envolvimento na Raríssimas se fez por dedicação à nobre causa que tal instituição erigiu como objectivo, então isso não devia sequer levantar-lhe dúvidas. Mas, talvez por congénito defeito, as primeiras pulsões da maioria dos políticos perante um problema delicado é: negar gravidade ao problema; e negar qualquer responsabilidade.

Porém, depois de tudo o que se sabe (e muita coisa com provas públicas), depois das indecorosas negações e posterior demissão do secretário de Estado, o ministro terá de verdadeiramente esclarecer o que lhe é pedido. Que é relativamente simples. Mas isso vai obrigá-lo a deixar de ser comportar como um eventual culpado à procura de desculpas e sim como alguém que, num cargo superior do Estado e em nome do interesse público, tudo deveria procurar fazer para que se ponha a “casa” em ordem, esta e todas as que for preciso, a bem do serviço que prestam, do interesse dos utentes e dos contribuintes.

Porque entre o que ele declarou e os factos, há várias discrepâncias. Por exemplo: Vieira da Silva disse há uma semana que, enquanto ministro não recebeu qualquer indicação de “gestão danosa” na Raríssimas; mas a própria presidente que foi agora posta em causa, Paula Brito e Costa, garante que se reuniu com ele em Julho, relatando-lhe um desvio de fundos que teria sido feito pela então vice-presidente e que ele a aconselhou a entregar o caso (ou seja, a auditoria) ao Ministério Público. Desvio de fundos não é gestão danosa? Questão de semântica? Não devia o ministro ter admitido que sabia de irregularidades em vez de ter dito que não sabia de casos de “gestão danosa”? Há mais dúvidas, legítimas, e o ministro deve esclarecê-las cabalmente. Agora. Sem rodeios. Para brincadeiras, já basta.

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