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Não deitar fora as crianças com a água do banho

O que a TVI nos mostrou sobre a Raríssimas é chocante. E não pode deixar o Estado e Governo indiferentes. Mas é preciso cuidado: este é terreno sensível.

O que a TVI nos mostrou sobre a Associação Raríssimas é chocante. Não só por sabermos como foi usado o dinheiro do Estado, mais por sabermos como é usado o dinheiro que devia ser dos doentes. Parece o mesmo, mas não é: num tema onde é fácil apontar o dedo, devemos ter o cuidado de não deitar fora as crianças com a água do banho.

Devemos, por isso, começar por aqui: a Raríssimas é uma instituição útil de apoio social, que apoia quem precisa de atenção especial. Como muitas outras, recorreu ao Estado para ganhar escala e cumprir a sua missão. Criou equipamentos sociais - incluindo lares e residências para deficientes -, cujo funcionamento só se assegura com financiamento público - e muito dinheiro de donativos privados. Não tem mal que assim seja, porque o Estado não chega a todo o lado (nem deve estar em todo o lado). Neste caso, é importante perceber se o contrato de parceria está a ser devidamente cumprido, ou se tem sido devidamente escrutinado. Cumprirá ao Ministério da Segurança Social dizer-nos se foi o caso.

Mais difícil de explicar é o outro apoio que a Raríssimas pediu ao Estado - e que a ajudou a financiar-se por três vezes desde 2012. Porque alguém vai ter que nos explicar, muito devagarinho, como é que o Estado dá 327 mil euros do Fundo de Socorro Social que acabou a pagar estudos a um consultor (62 mil euros) sem que alguém tenha pedido contas a alguém. Pelos vistos, nessas três vezes, o fundo público serviu para socorro, sim, mas não dos doentes - antes da associação e da senhora que a preside.

É aqui que o caso atinge este Governo. Porque acontece que esse consultor é um actual secretário de Estado da Saúde, que soube de onde vinha o dinheiro que recebia. Até hoje, a única coisa que ele nos disse é que não tomou “decisões de teor financeiro”. Pois não, limitou-se a receber. Falta saber para quê.

Sobre a mulher que lidera a Associação, há pouco mais a dizer. O que a TVI nos mostrou foi uma pequena ditadora, com presunção de criar uma dinastia, com menos preocupações sociais do que com o seu estilo de vida, usando a instituição que criou para criar uma rede de contactos e a pusesse em bicos de pés. Como o país é pequeno, o mundo político deu-lhe esse palco, mas aqueles que pisou acabaram por lho tirar. Até ao momento em que escrevo esse texto, essa senhora ainda não saiu do lugar. O meu melhor desejo é que não demore. Para não arrastar consigo uma instituição que está muito acima dela.

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