Rebecca Martin canta com a Orquestra Jazz de Matosinhos
Cantora norte-americana convidada a participar em concertos no Porto e em Barcelona. É a sua estreia ao vivo na Península Ibérica.
Não será a primeira vez que faz música em Portugal, mas será o seu primeiro concerto no país, esta quinta-feira, na Casa da Música, no Porto, com extensão no dia logo a seguir a Barcelona, onde vai actuar no festival internacional de jazz Voll-Damm. A convite da Orquestra Jazz de Matosinhos (OJM), a cantora e compositora norte-americana de origem canadiana Rebecca Martin (n. Rumford, Main, 1969), uma das grandes vozes da cena jazzística da sua geração, actua esta noite na Sala Suggia (22h00), e amanhã no Conservatório do Liceu de Barcelona, a marcar também a sua estreia em Espanha.
“Convidámo-la sobretudo pela sua voz, profunda, interior, e dotada de uma elasticidade incrível”, explica ao PÚBLICO Pedro Guedes, director musical da OJM.
Rebecca Martin esteve em Julho do ano passado em Lisboa, onde participou, com as duas parceiras do projecto Tillery (Becca Stevens e Gretchen Parlato), numa escola de jazz de Verão no CCB. “Mas agora, aqui, vai ser diferente”, diz a artista à entrada para um ensaio na Casa da Música com a orquestra de Matosinhos. “Aqui vou cantar as minhas canções, e é quase um sonho imaginar a minha música interpretada por uma big band”, acrescenta.
Pedro Guedes nota que o convite a Rebecca Martin vem também na sequência natural da parceria que a OJM vem estabelecendo com outros nomes grandes do jazz norte-americano, como Chris Cheek, Kurt Rosenwinkel (que produziu um dos álbuns da cantora, The Growing Season, 2008), Mark Turner, Fred Hersch ou Brad Mehldau. “A ideia inicial foi convidá-la a interpretar standards, mas depois achámos que devíamos explorar as outras facetas dela, tanto enquanto compositora como enquanto letrista”, acrescenta o maestro da formação matosinhense.
Rebecca Martin entrou em contacto com a existência e a música da OJM por via desses seus amigos. “Nunca a tinha ouvido ao vivo, mas é uma banda muito conhecida e muito apreciada entre os músicos com quem trabalho; é uma orquestra já com grande experiência, e que está a tocar cada vez melhor. É uma grande honra vir tocar com eles”, diz a cantora, que conta no seu currículo já meia dúzia de discos em nome próprio, além de colaborações com figuras como Jesse Harris, com quem criou o primeiro projecto e lançou o primeiro disco, Once Blue (1985), Paul Motion – “um músico que era um ídolo para mim, um escritor de canções, um poeta, com quem eu aprendi muito, e que marcou uma mudança muito grande no modo de eu ver a música”, recorda – e Larry Grenadier, contrabaixista com quem fez o disco Twain (2013), e que também se tornou o seu marido.
A participação da OJM, esta sexta-feira, no festival de Barcelona vai acontecer pelo quarto ano consecutivo. “Era bom que tivéssemos mais vida na Península Ibérica, para além de Barcelona e do Porto”, reclama Pedro Guedes, realçando o carácter único do trabalho que a orquestra vem fazendo nos dois países.
“Não haverá muitas orquestras de jazz como a nossa em Espanha; pelo menos não conheço outras que façam o que nós fazemos”, diz o também compositor e pianista, acrescentando que a OJM integra, de resto, também músicos galegos (e um argentino). “Para já, temos o Porto e Barcelona, é metade do percurso, mas era bom que conseguíssemos também Lisboa e Madrid”. Porque o que os músicos da orquestra agora com sede na recém-inaugurada Casa da Arquitectura querem é tocar – “É isso que fazemos, e que gostamos de fazer: tocar”, reforça Pedro Guedes.
Desta vez, fá-lo-ão na companhia da voz e da guitarra, das músicas e das letras de Rebecca Martin, que Pat Metheny uma vez disse cantar “com sentimento e alma”, e sempre com “uma musicalidade fantástica, fresca e excitante”.