Arquitectura
Um “canteiro verde” e abstracto no cemitério de Ílhavo
Era para ser uma obra discreta: uma caixa revestida a azulejo, com reboco verde e poucos ornamentos. Este era o primeiro rascunho dos sanitários do cemitério de Ílhavo, uma encomenda da junta de freguesia de São Salvador. O objectivo era tornar um edifício que era “violento e impositivo”, como descreve Ricardo Senos, um dos arquitectos do atelier M2.senos, num projecto diferente.
Hoje, o cemitério acolhe uma “caixa abstracta”. A cerâmica verde envolve todo o edifício, escondendo o branco no interior. Não há iluminação, nem ventilação artificial. Aproveitam-se as clarabóias para a entrada de luz natural e as fendas horizontais para que o ar circule. Antes da intervenção da dupla de arquitectos, os irmãos Ricardo e Sofia Senos, o ponto de partida passava por “tentar anular toda a informação em excesso que estava no edifício”, como conta Ricardo ao P3. “O desafio foi pegar naquele edifício meramente funcional e transformá-lo, de certa forma, em mais um canteiro”, explica, procurando demonstrar a necessidade de adaptar este volume às árvores e canteiros em volta, retirando-lhe o protagonismo. Daí o verde pintar todo o exterior, como se pode ver nestas imagens de Nelson Garrido, fotojornalista do PÚBLICO.
Desenvolvido por funcionários da junta — muitos sem experiência em construção, lembra o arquitecto —, a proposta precisava de ser funcional e sem grandes despesas. No fundo, a simplicidade foi a marca de todo o processo. E se, a princípio, houve quem estranhasse as novas casas de banho, "hoje, já ninguém se queixa", confirma Ricardo Senos. Certo é que o projecto está a correr o mundo (já ronda as 30 publicações, confirma o arquitecto). Afinal, quem esperaria uma “caixa abstracta” destas no meio de um cemitério?