Dois metros quadrados de camarins do Trumps
Do "hiper feminino" das drag queens à extrema "masculinidade" dos go go dancers. Há seis anos que Zara Pinto é responsável pelas luzes e audiovisuais do Trumps, provavelmente a discoteca LGBTI mais conhecida de Lisboa, e há seis anos que alimenta um fascínio enorme pela cultura clubbing, drag e erótica. Todas as sextas e sábados, via-os entrar nos camarins e a transformarem-se em mulheres. Ficava ali, a assistir à transformação, algo voyeur, algo fetichista, sempre "cúmplice". Rapidamente, as drag queens começaram a pedir-lhe para tirar fotografias. Rapidamente, já era Zara quem, sempre que apanhava um visual cativante, pegava no telemóvel e fotografava. Sempre a preto e branco, sempre à queima-roupa, com uma estética "trash e crua", tendo como único destino o Instagram. Nascia então o projecto 2squarefeet, os dois metros quadrados de camarim onde tudo isto acontecia, que já conta com mais de 120 fotografias. O interesse mais tarde estendeu-se para os go go dancers, os bailarinos, com a sua característica virilidade. Quase o "aspecto" que Zara gostava de ter, mas "não acontece da noite para o dia". É essa oposição que o projecto explora. E é nesse espectro que oscila Zara, com quem já conversámos a propósito da série LX Menina e Moça, que não chegou a ver a luz do dia. Assume-se hoje como uma "pessoa trans não binária" que não se encaixa nem de um lado, o feminino, nem do outro, o masculino. "Perco-me um bocado a olhar para eles, para o super-feminino e o super-macho. Não tenho de todo essa fluidez", conta, em entrevista ao P3. "Acho engraçado, por exemplo nas drag queens, como eles conseguem fazer essa transição de homem para drag, que, para mim, seria impensável. Admiro imenso."