A bolota tem potencial, faz bem à saúde e é amiga do ambiente
No livro O Renascer da Bolota, o chef Pedro Mendes mostra que este é um alimento nobre e explica como cozinhá-lo em receitas saborosas e criativas.
Já há quem lhe chame um superalimento e a bolota começa a ser olhada pelo potencial que pode ter na alimentação humana. É certo que o fruto das Quercus (azinheira, carvalho e sobreiro) já teve papel central na alimentação dos povos do hemisfério Norte, mas isso foi antes do desenvolvimento da agricultura. Passou depois a ser visto como alimento de pobres e de animais, caindo em desuso na alimentação dos humanos.
E mesmo que tenha resistido apenas em alguns redutos, o valor do seu uso alimentar volta agora à ribalta. Fruto de estudos e investigações recentes, mas também porque um dos cozinheiros da nova geração decidiu resgatá-la das catacumbas da história e lançar um livro de receitas. Com O Renascer da Bolota, o chef Pedro Mendes não só mostrou aos portugueses que a bolota é um alimento nobre e qualificado mas explica também como cozinhá-la em receitas saborosas e criativas.
Pedro Mendes é um dos participantes na Conferência Ibérica que vai acontecer dentro de uma semana (18 de Novembro) em Matosinhos, precisamente para debater e analisar a bolota como alimento com passado, presente e futuro. A par do valor nutricional e gastronómico numa dieta alimentar, o encontro não vai perder de vista também a perspectiva económica e a questão da floresta.
Principalmente numa altura em que se conjugam as questões da saúde e da sustentabilidade. É que se, por um lado, os alimentos modernos estão na origem de muitas das doenças do organismo humano, as plantas da família Quercus são apontadas como fundamentais na luta contra a doença dos incêndios. Daí que, da valorização da bolota como alimento à reflorestação com as árvores que a produzem, tudo se conjugue como um passo decisivo no caminho da sustentabilidade.
A par das receitas de Pedro Mendes e dos caminhos que teve que trilhar para lá chegar, também o pasteleiro Rui Coelho vai mostrar como faz os seus pastéis de nata de bolota, que de há três anos para cá são um chamariz à sua pastelaria no Alandroal.
É à luz dos estudos desenvolvidos por uma equipa de investigadores da Escola de Biotecnologia da Universidade Católica que serão também analisadas as características nutricionais e funcionais da bolota, bem como o seu papel na dieta e potencial industrial. Apresentados há pouco mais de dois anos, no I Simpósio sobre a bolota, os estudos liderados pela professora Manuel Pintado deixaram claro o seu elevado valor nutricional.
Tanto fresca como processada em farinha, é rica em fibra e proteína e tem um perfil de lípidos idêntico ao do azeite. A par de compostos antioxidantes, a ausência de glúten recomenda-a ainda como alternativa para os celíacos. Ou seja, tem potencial gastronómico, faz bem à saúde e é amiga do ambiente.