Ambientalistas querem tirar algumas aves da mira dos caçadores açorianos

As associações ambientalistas pedem para que algumas aves deixem de ser espécies cinegéticas uma vez que a sua população pode ser posta em perigo.

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NUNO VEIGA/LUSA

No momento em que o Governo Regional prepara uma nova lei para a caça, as associações aproveitam para tentar tirar algumas espécies da mira das espingardas. Três espécies de patos migradores e duas outras nidificantes não existem em número suficientes deveriam ficar fora da lista das aves que podem ser caçadas, defende a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

O Governo Regional apresentou na Assembleia Legislativa Regional uma nova proposta para “Gestão dos Recursos Cinegéticos e ao Exercício da Caça na Região Autónoma dos Açores”. A lei regional relativa à actividade da caça foi alterada pela última vez em 2012, pelo este decreto se considerou “desajustado face à evolução que se tem vindo a verificar em matéria de gestão de recursos cinegéticos”. Para que a proposta possa passar a efectiva foram requisitados, por parte do presidente da Comissão de Economia, estudos desenvolvidos no âmbito da ecologia e biologia das espécies, bem como pareceres aos caçadores e associações.

Na opinião da SPEA, cinco das nove espécies de aves contempladas na lista cinegética em discussão não deveriam lá estar, já que não é tido em conta a sua abundância, o seu estado de conservação ou a sua importância ecológica.

O principal problema apontado é o facto de algumas apresentarem um número reduzido de exemplares, já que isto prejudicaria a capacidade da espécie perdurar. É o caso de três espécies de patos migradores: o Pato-real, a Marrequinha e a Piadeira. Também a Galinhola e a Narceja, espécies nidificantes em habitats muito específicos, não têm condições de estabilidade e a sua contínua caça poderá pôr a espécie em vias de extinção.

Outro problema desta proposta, considera a SPEA, prende-se com os meios utilizados na actividade. Já são há muito conhecidos os impactes ambientais negativos das munições de chumbo nos ecossistemas aquáticos, que como podem mesmo chegar a contaminar as populações humanas, provocando o saturnismo. A caça aos patos com este tipo de munições pode causar graves contaminações nos ecossistemas açorianos, algo que pode ser facilmente evitável.

“É sempre apontado o custo das munições de ligas metálicas alternativas e os possíveis danos nas armas como razões para não deixar de ser usado chumbo”, afirma Domingos Leitão, director da SPEA. “No entanto o preço apenas é alto quando a procura é pouca: a partir do momento em que isso se altera, o mercado muda.”

O consumo de carne de caça faz com que esta seja também um questão de saúde pública, afirma o director, lembrando que estas munições já foram proibidas em vários estados europeus. 

As restrições que os ambientalistas propõem para a caça não significam que possa haver um risco de perda económica para o arquipélago, pois eventuais reduções de rendimento podem ser compensadas pelo aumento do turismo na natureza. Este tem crescido substancialmente no território insular e, segundo Maria José Bettencourt, técnica da Direcção de Serviços de Conservação da Natureza e Sensibilização Ambiental da região, o turismo de observação de aves tem também crescido a passos largos.  

Isso é visível pelo aumento do número de empresas turísticas dedicadas à actividade, que já ascendem a 15 no arquipélago. Face a isto, a Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo que construir uma Rede de Observação de Aves dos Açores.

“Não queremos de maneira alguma acabar com a caça mas sim que o assunto seja discutido por toda a sociedade e não só pelos caçadores”, conclui Domingos Leitão.

Texto editado por Ana Fernandes

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