@umtiago: fotografias que não se encontram no Google
Não há requisitos mínimos para se ser amigo de @umtiago, mas há algumas qualidades que dão jeito. Saber saltar (bem alto) é um bónus; indispensável é mesmo ter muita, muita paciência. "Já aconteceu ter de repetir a mesma foto 50 vezes para ficar exactamente no sítio onde quero", conta o iger, ao telefone com o P3. "Não estou a exagerar." Por isso, às vezes inverte os papéis — o próprio autor vai para a frente do smartphone e grita instruções para o clique perfeito. "Sou tão chato que tenho de ser o modelo." Na vida real é Tiago Silva, 24 anos, redactor publicitário há cinco na agência O Escritório, em Lisboa; à hora do almoço, fins-de-semana, sempre que consegue sair mais cedo é @umtiago, especialista em captar "fotografias que não se encontram no Google". É o que responde sempre que viaja e mostra à mãe o que viu. "Não tiraste fotos das paisagens?", pergunta-lhe a matriarca, enquanto, imaginamos nós, desfia um feed repleto de tropelias no ar, mundos extraterrestres, gigantes e anões. "Não, para isso vou ao Google", responde, prontamente, o filho. Encara o Instagram como um diário gráfico, um escape criativo ao já criativo dia-a-dia. Para isso, conta sempre com a ajuda de mãos, pernas, voos alheios — como os de @suissas, que na vida real é Hugo Suíssas, director de arte na mesma agência. Juntos formam também um power duo de peso nisto do Instagram, com presenças constantes no feed um do outro, graças a muitas horas de almoço passadas a inverter o mundo. E não só. "No início ele era só o meu modelo, depois começou também a fotografar", conta Tiago. "É uma amizade muito engraçada. Aliás, já escolhemos destinos de férias a pensar em cenários de fotos." Vida de iger é outra coisa. Tudo com iPhone, sem artes de Photoshop ("Tento evitar ao máximo, estraga o conceito"), sem filtros ("Gosto da realidade"); ainda que o que vemos seja assumidamente surreal — com pessoas reais. Como um trocadilho visual. O conceito, diga-se, já atraiu a atenção de marcas (Levi's, Reebok, Fujifilm) e de quase 50 mil seguidores. Já agora, fica a confissão: "Um contorcionista podia ser o meu melhor amigo. Ou um atleta de salto em comprimento". Alô, Nelson Évora?