Azeredo Lopes, o ministro com o “lugar do morto” na “geringonça
O ministro da Defesa é o único membro do Governo que ouve críticas dos partidos à esquerda e à direita PS. PCP, BE e Verdes não são tão duros como PSD e CDS, mas as razões são as mesmas: falta de informação ao Parlamento e declarações inadequadas sobre Tancos.
Há algo em que os partidos à esquerda do PS que sustentam o Governo na Assembleia da República e a direita estão de acordo: nas críticas ao ministro da Defesa, Azeredo Lopes, pela gestão em relação ao caso do desaparecimento das armas de Tancos. Especialmente pelas diversas declarações que tem feito e pela informação que dizem não prestar ao Parlamento, desde que, faz hoje três meses, os portugueses ficaram a saber que havia armamento de guerra que devia estar nos Paióis Nacionais de Tancos e afinal não se encontrava lá.
É verdade que PCP, BE e Verdes não são tão duros como PSD e CDS-PP em relação a Azeredo Lopes, especialmente os centristas, que há muito tempo e de forma insistente pedem a demissão do ministro. Mas é igualmente verdade que os partidos que com o PS sustentam o Governo de António Costa não mostram a complacência com Azeredo que mostram com outros ministros sob o fogo da direita, como é o caso da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
Este agastamento do lado mais à esquerda da “geringonça” foi absolutamente notório no debate na Assembleia da República da semana passada com o titular da pasta da Defesa, pedido por PSD e CDS. Com as declarações de Azeredo Lopes sobre a possibilidade de não ter havido um roubo do material militar de Tancos ainda muito vivas na memória de todos, PCP, BE e Verdes alinharam com a direita nas críticas ao ministro e nos pedidos de explicações, que Azeredo acabou por não dar.
Por outro lado, estes três partidos têm subscrito todos os pedidos de informações que a Comissão Parlamentar de Defesa Nacional (CPDN) tem feito ao ministro sobre Tancos e as críticas que lhe são feitas por não prestar à comissão uma boa parte da informação que lhe tem sido pedida ao longo destes três meses. O último foi na semana passada.
“Era bom que, em vez de fazer comentários e especulações, o ministro da Defesa nos dissesse que medidas vão ser tomadas para que algo como aconteceu em Tancos não volte a acontecer”, disse ao PÚBLICO Jorge Machado, deputado do PCP e membro efectivo na CPDN. Para este deputado comunista, “tem havido muito poucos esclarecimentos” por parte de Azeredo Lopes. “Não queremos pôr em causa o trabalho do Ministério Público neste caso, sabemos que há coisas que não podem ser reveladas, mas na verdade o ministro não responde aos pedidos de informação que lhe têm sido feitos pela comissão”, acrescenta.
Para João Vasconcelos, deputado do BE e também membro efectivo da CPDN, o que se passou com o desaparecimento de armas nos Paióis Nacionais de Tancos revela “uma falha muito grave por parte do Estado”. “Lamentamos as posições e as declarações do ministro, porque não ajudam a corrigir as falhas que aconteceram, nem clarificam nada sobre o desaparecimento das armas”, afirma o bloquista. Afirmando também que Azeredo Lopes “não presta informações à CPDN”, João Vasconcelos diz que “as coisas não estão a funcionar por parte do ministro”.
“A direita estica um bocado a corda, mas a verdade é que tem havido unanimidade de todas as forças políticas na CPDN nos pedidos de informação a Azeredo Lopes”, afirma o deputado do BE. Mesmo do lado do PS, as coisas parecem não seguir por caminhos muito bem alcatroados. No sábado, o Expresso noticiava, com base em relatos sob anonimato de deputados socialistas, que António Costa tinha puxado as orelhas aos deputados por estes terem subscrito os pedidos de esclarecimento da CPDN e de “irem a reboque” do presidente da comissão, o social-democrata Marco António Costa.
“Quem quiser que enfie a carapuça. Eu não enfio”, disse ao PÚBLICO o coordenador socialista na CPDN, José Miguel Medeiros. Esclarecendo que não esteve “na reunião do grupo parlamentar” em que António Costa terá feito reparos negativos, Medeiros não confirma nem desmente os factos relatados pelo Expresso, “até porque têm declarações entre aspas”. “Às vezes há divergências. É normal. Todo o trabalho do PS na comissão de defesa tem sido articulado com o líder parlamentar [Carlos César] e, que eu saiba, não há nenhum desentendimento entre o líder do partido e o líder parlamentar.”
Medeiros assegura que “ninguém lhe fez qualquer reparo” pelo trabalho do PS na CPDN. “Se alguém enfiar a carapuça, que a enfie. Eu não enfio”, repete. E diz estar “hoje mais informado sobre Tancos, graças à ida de Azeredo Lopes ao Parlamento”, na semana passada. Marco António Costa reagiu ao alegado puxão de orelhas de Costa aos deputados socialistas, afirmando que, “a ser verdade, são de uma enorme gravidade institucional e revelam uma vontade do Governo em obstruir o trabalho de fiscalização do Parlamento”.