Já houve mais assaltos a Tancos e videovigilância está avariada há cinco anos
Revelações foram feitas por deputados na audiência ministro da Defesa. Azeredo Lopes não sabia nada sobre insegurança das instalações antes do assalto aos paióis nacionais.
A audiência parlamentar sobre o assalto a Tancos conhecido na semana passada foi ao ministro da Defesa, Azeredo Lopes, mas quem deu novidades foram os deputados. E não foram pequenas: já houve mais assaltos a Tancos que estão a ser julgados e a avaria no sistema de videovigilância dos paióis nacionais da base não dura há dois anos, mas há cinco anos.
A primeira informação foi avançada pelos Carlos Costa Neves, do PSD, e João Vasconcelos, do BE. Nenhum deles deu grandes detalhes sobre a informação, nem revelaram a fonte de informação. Nem foram, porém, desmentidos por ninguém na sala, nomeadamente pelo ministro.
Segundo o PÚBLICO apurou, a fonte é segura, já que estes dois dados foram revelados aos deputados pelo chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, na audição parlamentar de quinta-feira, à porta fechada, igualmente sobre o assalto a Tancos.
António Carlos Monteiro, do CDS/PP, fez ainda outra revelação sobre a audiência de Rovisco Duarte: o CEME revelou estar a par da insegurança nos Paióis Nacionais de Tancos.
Quem não sabia de nada no que respeita a insegurança, assaltos, avarias, perigos em instalações militares era Azeredo Lopes. Pelo menos, antes do furto revelado quarta-feira. Repetiu-o diversas vezes. Não recebeu nenhuma informação, relatório ou palavra que lhe indicasse haver quaisquer perigos ou debilidades nas instalações militares.
Questionado se os pedidos para reparação das redes que autorizou no ano passado não o alertaram de que algo pudesse estar mal, Azeredo Lopes assegurou que não, pois não passou de um “procedimento administrativo”, ou de um pedido para a realização de “uma empreitada”.
Negou, porém, que as falhas na protecção de material militar possam ser justificadas com desinvestimento ou falta de efectivos. Isso, afirmou, “seria insultar as Forças Armadas”.
Sobre o CEME, diz manter nele toda a confiança e elogiou a “coragem com que tem enfrentado os problemas”. “Não deve em nenhuma circunstância ser demitido o CEME (...) Pelo contrário, deviam estar muito contentes com esta chefia, com a forma como está a enfrentar os problemas e como desta forma está a ajudar Portugal”, afirmou.
O ministro começou a sua intervenção apontando “quatro equívocos principais” que, em seu entender, contaminaram o debate sobre o furto de Tancos. O primeiro tinha a ver com a segurança dos paióis, salientando que ela é uma questão de gestão operacional “que cabe aos ramos” das Forças Armadas.
O segundo equívoco, tinha a ver com a informação que teria recebido sobre a segurança da base, que foi nenhuma. “Não tinha qualquer conhecimento de uma situação que fosse urgente corrigir, directa ou indirectamente, à segurança daqueles paióis", referiu.
O terceiro, foi ter sido "acusado" de desvalorizar o caso, o que Azeredo Lopes também negou. Disse mesmo que as suas intervenções públicas “foram no sentido de, sem meias palavras, o qualificar como grave”.
“O quarto equívoco é o alegado grave impacto internacional na imagem de Portugal”. Nesta matéria, revelou que teve uma "longa conversa telefónica" com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre o assunto e que este “nunca sobrevalorizou os factos de Tancos e insistiu no crédito e na fiabilidade de Portugal como membro da NATO e velho aliado”.
Sobre a sua responsabilidade política, que assumiu logo que o furto foi conhecido, Azeredo Lopes disse considerar que essa responsabilidade passava por adoptar as "medidas necessárias" para apoiar o cabal esclarecimento dos factos. “A responsabilidade política passou por afastar-me dos holofotes e discursos inflamados onde se procurou criar uma agitação artificial nas Forças Armadas, não alinhando na criação de um ambiente de desassossego, numa tentativa de aproveitamento, politização ou instrumentalização da instituição militar. Isso sim, seria grave. Nisso não vou participar”, afirmou.
PSD e CDS não o pouparam e lançaram de imediato acusações de ter ido à comissão parlamentar “enjeitar responsabilidades” e de “ainda não ter pedido desculpa aos portugueses”. Disseram mesmo que esse é o seu comportamento habitual.
O ministro contra-atacou revelando que, desde que está no cargo, há cerca de dois anos, recebeu 503 perguntas dos diversos grupos parlamentares e que “nenhuma” tinha sido sobre segurança de instalações militares.
Outra questão que entrou no debate foi o facto de haver entidades privadas a fazer segurança em instalações militares, como noticiou o PÚBLICO. Azeredo Lopes lembrou que esta situação acontece desde 2009, que actualmente “é residual” e apenas acontece em instalações não operacionais. Acentuou que estes profissionais não têm qualquer contacto com armamento e que basicamente fazem controlo de entradas e de identificação.