Houve ou não assalto em Tancos? Agora, o ministro nada diz

Azeredo Lopes foi ao Parlamento, mas entrou mudo e saiu calado sobre a possibilidade de não ter havido assalto aos paióis nacionais.

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Azeredo Lopes no Parlamento nesta segunda-feira LUSA/MÁRIO CRUZ

Depois de há uma semana ter afirmado que, "no limite, pode não ter havido furto nenhum", nesta segunda-feira, apesar de questionado por todas as bancadas parlamentares, à excepção das do PS e do PAN, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, optou por ignorar os pedidos de clarificação sobre as suas palavras.

Chamado ao Parlamento pelo PSD e pelo CDS para prestar esclarecimentos sobre “o alegado furto aos paióis de Tancos”, Azeredo Lopes acabou também ser alvo de fortes críticas de PCP e BE pelas suas declarações na entrevista ao DN e TSF de há uma semana, embora estas duas forças tenham considerado que a chamada do ministro ao Parlamento não passou de “jogo político” por parte dos partidos da direita.

Apesar de ter começado por afirmar que iria falar “sobre o furto nos paióis nacionais”, Azeredo Lopes não deu qualquer explicação sobre o facto de ter aberto a porta à possibilidade não ter havido assalto e de a falta de material se poder ter ficado a dever a uma questão de inventário. Assim como nada disse sobre mais um pedido de demissão feito pela bancada do CDS, com o deputado João Rebelo a considerar que a situação de Azeredo Lopes “é indesejável”, “insustentável” e até “um embaraço para a 'gerigonça'.”

No dia 28 de Junho, o Exército revelou que tinham sido assaltados dois paiolins dos Paióis Nacionais de Tancos, de onde terão sido levadas 150 granadas de mão ofensivas, 18 granadas de gás lacrimogéneo e 1450 cartuchos de munição de nove milímetros, entre outro material militar.

Na sua intervenção no debate de actualidade no Parlamento, o ministro da Defesa começou logo por afirmar que muitas das perguntas dos partidos iam ficar sem resposta, já que elas diziam respeito a investigação em curso do Ministério Público, que se encontra em segredo de justiça.

Acompanhado pelos secretários de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, e dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, Azeredo Lopes garantiu que o Governo "fez o que devia ser feito e num tempo muito curto" e revelou que foram abertos três processos disciplinares no Exército, dado que esta força militar já tinha revelado há mais de duas semanas, quando anunciou os processos no Regimento de Engenharia n.º 1, que tinha a responsabilidade da guarda dos paióis na altura. “Em síntese, e sem prejuízo de críticas legítimas, o Governo fez o que devia ter feito e num tempo muito curto.”

O ministro revelou que foram decididos "investimentos imediatos" na sequência da avaliação das condições de segurança das instalações de armazenamento de material, nomeadamente, um milhão de euros nos paióis de Santa Margarida e 500 mil euros em 16 unidades do Exército. Quanto a medidas "a médio e longo prazo", Azeredo Lopes adiantou que determinou, através de despacho, várias medidas, destacando a criação de um "sistema de informação comum para controlo efectivo de material sensível, que garanta a informação necessária e o controlo de acesso a informação".

Azeredo Lopes sublinhou que os relatórios que lhe foram entregues pelos ramos das Forças Armadas e pela Inspecção de Defesa Nacional foram classificados como "secretos" por "quem os realizou" e não pelo ministério, invocando "matérias sensíveis de âmbito de Segurança Nacional aí tratadas".

A intervenção do ministro mereceu apenas aplausos de alguns deputados socialistas e, ainda assim, de forma muito tímida.

Depois disto, Costa Neves, do PSD, afirmou que os deputados deixavam o debate como deixaram a Comissão de Defesa quando o ministro aí interveio: com muito pouca informação sobre “o que aconteceu, como aconteceu, o que desapareceu e de quem é a responsabilidade". "Houve ou não assalto a Tancos?”, questionou mais uma vez o deputado. Ainda não foi nesta segunda-feira que se soube.

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