Jerónimo quer alívio fiscal compensado por impostos sobre “o grande capital”

No encerramento da Festa do avante!, o líder do PCP avançou algumas exigências para o próximo Orçamento do Estado, saudou os "avanços" alcançados e deixou avisos ao PS.

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Jerónimo de Sousa encerra a Festa do Avante! com uma garantia: "A luta continua" LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Jerónimo de Sousa encerrou a 41ª Festa do Avante! com uma palavra de saudação para a “reposição de direitos” e outra de aviso à navegação socialista, criticando a “convergência” entre PS, PSD e CDS em matéria de legislação laboral, no domínio económico e financeiro e em matéria de soberania. Da Autoeuropa à Coreia do Norte, há um mar de diferenças que o líder do PCP fez questão de afirmar face ao PS.

Num momento em que seguem as negociações com o PS para a elaboração do Orçamento do Estado para 2018, Jerónimo de Sousa deixou pistas sobre o caderno de encargos que o PCP espera alcançar, desde logo no domínio fiscal. Já se sabia que os comunistas querem um desagravamento dos impostos sobre os trabalhadores dos escalões mais baixos, “com a criação de mais escalões no IRS e redução de taxas, com o reforço dos montantes do chamado mínimo de existência para os mais baixos salários”.

Mas o que ainda não tinha sido dito era que, para compensar essas descidas, o PCP defende o aumento de impostos sobre os rendimentos elevados, “com a obrigatoriedade do englobamento dos lucros e dividendos do grande capital e com a introdução do adicional à derrama para empresas com lucros superiores a 35 milhões de euros”.

Além do aumento do salário mínimo para os 600 euros e o descongelamento das carreiras da Administração Pública, o PCP quer garantir para 2018 “um aumento mínimo de 10 euros para todas as pensões”. Insiste no alargamento das carreiras contributivas longas, de modo a “assegurar que um trabalhador com 40 ou mais anos de descontos tenha direito à reforma por inteiro e sem penalizações”. E propõe a eliminação do corte de 10% nos subsídios de desemprego.

Estas são apenas algumas das muitas medidas preconizadas por Jerónimo de Sousa, num discurso em que pediu mais votos nas autárquicas, não apenas pelo que representam no plano local, mas  também “pelo que podem contribuir para dar força à luta que travamos para melhor defender os interesses dos trabalhadores, do povo e do país”.

Jerónimo de Sousa começara por saudar os “avanços” conseguidos na reposição de rendimentos e direitos, destacando o papel do PCP nessas vitórias, mas diz que não chega. “Não é ainda o que é justo e se impõe, mas são avanços que estão para além do que o programa do PS e do seu governo admitiam, e a luta continua e vai seguir o seu caminho”, disse.

Autoeuropa? "A luta continua"

Depois enalteceu “o esforço militante de um grande colectivo” que pôs de pé a 41.ª edição da Festa do Avante! enquanto se desdobrava noutras frentes de luta. “Levantámos a Festa e ao mesmo tempo intervimos para defender os interesses e direitos e dinamizar a luta dos trabalhadores e do povo”, afirmou, destacando “as lutas travadas pelos trabalhadores” em várias empresas. “Nomeadamente contra a ofensiva patronal sobre os horários de trabalho, pelo direito à continuação do descanso semanal ao sábado e ao domingo, como na Autoeuropa, por soluções que salvaguardem os seus direitos e assegurem o desenvolvimento da produção, ou dos trabalhadores da Portugal Telecom pela defesa da sua dignidade e direitos”. Quando nomeou a fábrica da Volkswagem, Jerónimo foi interrompido pela multidão: “A luta continua!”.

Por várias vezes, o líder comunista sublinhou a “convergência” entre PS, PSD e CDS, “em matéria de legislação laboral e em opções do domínio económico e financeiro e soberania”. E deixou avisos directos aos socialistas: “Não há compatibilização possível entre uma política socialmente justa e de real desenvolvimento do país e as imposições e os constrangimentos a que a União Europeia nos sujeita”.

As diferenças ideológicas do PCP face ao PS não se ficaram por aqui. Jerónimo afirmou que “os EUA, a NATO, as grandes potências da União Europeia e os seus aliados são responsáveis por uma colossal corrida aos armamentos”, tal como “são responsáveis pela militarização das relações internacionais, o uso da chantagem nuclear, a criação de sucessivos e constantes focos de tensão, o desrespeito da legalidade internacional”.

Dirigindo-se às “dezenas de delegações” presentes na festa, da Venezuela à China, o líder comunista saudou “todos aqueles que no Médio Oriente, na América Latina e Caraíbas, na Ásia, em África e na Europa lutam, nas mais diversas condições, em defesa dos direitos dos trabalhadores e da soberania dos povos, pelo avanço do progresso social e da emancipação dos trabalhadores e dos povos, pela superação revolucionária do capitalismo”.

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