Fotografia
Quirguistão: um país que permanece na sombra
O fotógrafo francês Elliott Verdier passou quatro meses a percorrer o território quirguize munido de uma câmara fotográfica de grande formato (4x5), em busca da identidade de um país "desconhecido", que considera "dividido entre a nostálgica herança soviética e a invasão da economia globalizada". O projecto Khyrgystan: a Shaded Path foca-se nas disparidades geracionais que tornam evidente essa divisão, entre as esperanças, valores e identidade dos jovens — que nunca viveram sob o jugo soviético — e dos mais velhos, cujo olhar brilha quando evocada a era comunista.
"O Quirguistão foi, durante a era soviética, uma nação segura do seu destino e da sua identidade; no presente vê-se forçada a lidar com os desafios da independência", tais como instabilidade política, violência interétnica (entre quirguizes e uzbeques), escassez de recursos —que conduzem a dependência financeira do exterior e pobreza — ou a crescente ocidentalização das camadas jovens da população. "Quanto mais pessoas jovens conheci, mais me apercebi de quão dinâmicas são, de quanta força e motivação guardam para 'levantar' o país", disse o autor ao P3, em entrevista via email. "São muito ambiciosos e sonhadores. Diria que são ávidos de conhecer o mundo e de ser parte dele; querem quebrar com as tradições e abraçar a modernidade, mas sem esquecerem as suas origens."
Elliott Verdier conheceu também alguns idosos, como revelam as imagens que captou. Recorda o encontro com o "velho almirante" Boris Vassilievitch Tchoumakov, de 80 anos de idade: "Foi um encontro muito agradável e comovente", recorda. "Mostrou-nos — a mim e ao escritor que me acompanhou, Grégoire Domenach — o porto abandonado de Balykchy [situado na borda do décimo maior lago do mundo, Issyk-Kul]. Ele falava entusiasticamente do porto e da sua glória passada. Oriundo do Cazaquistão, estudou em Moscovo antes de chefiar a divisão de transportes no lago Issyk-Kul, cargo que ocupou até à queda da URSS. Desde então, nunca mais abandonou o Quirguistão. Depois de bebermos uns shots de Vodka, de entoarmos algumas canções ucranianas e de proferirmos alguns discursos de agradecimento, finalmente fizemos o retrato. Ele vestiu o uniforme e posou para a posteridade. Gosto muito deste retrato porque vejo nos olhos dele o que ele se sentiu naquele momento — é um espelho exacto da ideia que queria transmitir sobre esta população idosa."
Nostalgia, orgulho no passado. "Captar o equilíbrio subtil entre a melancolia e a esperança" era um dos objectivos do fotógrafo parisiense que gosta de pensar que será, possivelmente, a primeira e última pessoa a retratar estas pessoas utilizando uma câmara de grande formato. "É um registo único."