Balanço do VAR após três jornadas
Estive ontem, a convite do Conselho de Arbitragem da FPF, na Cidade do Futebol para uma sessão formativa sobre o videoárbitro (VAR) e balanço desta experiência nas três primeiras jornadas (faltava jogar o Feirense-Paços de Ferreira). Focando-me no balanço que é possível fazer-se até ao momento, que acredito ser o maior interesse do leitor, partilho aqui algumas informações:
1. A média de lances revistos pelo VAR nestes primeiros 26 jogos da Liga NOS foi de 6 a 7 por jogo, num total de 173 situações.
2. Apenas três decisões foram corrigidas após revisão pelo VAR. O IFAB aponta para que, a cada 6 jogos, haja uma decisão alterada. Em Portugal, para já, esse número é de uma decisão corrigida a cada 9 jogos.
3. As três decisões alteradas foram: golo mal anulado do FC Porto ao Estoril que foi corrigido pelo VAR; expulsão de Josué (Vitória) com vermelho directo por cortar uma clara oportunidade de golo, quando o árbitro apenas tinha exibido cartão amarelo; e decisão de, após assinalar correctamente um pontapé de penálti favorável ao Vitória de Setúbal no jogo com o Desp. Chaves, anular essa decisão por ter sido detectada uma falta de um jogador atacante na construção da jogada de ataque que culminou no penálti. Três excelentes intervenções do VAR em que não duvidou terem-se tratado de erros claros do árbitro.
4. No jogo Rio Ave-Portimonense, desta 3.ª jornada, aconteceu algo que, sendo raro, é possível acontecer. O VAR deu indicação ao árbitro para que revisse um lance de possível mão na área (pontapé de penálti) e o árbitro, após visionar as imagens, decidiu manter a sua decisão de nada assinalar considerando que foi bola na mão e não o inverso. Precipitou-se o VAR. Esteve excelente o árbitro na opção de manter a sua decisão inicial.
5. Foi assumido que, no lance de Eliseu sobre Diogo Viana (jogo Benfica-Belenenses desta jornada), o árbitro falhou na sua análise inicial e que o VAR também falhou, pois, dada a clareza das imagens televisivas, deveria ter solicitado ao árbitro que fosse rever o lance. Considero de extrema importância esta transparência do CA em assumir o erro do árbitro e do VAR. Admitir este erro, agora, irá validar e proteger decisões correctas que venham a acontecer em lances semelhantes no futuro.
6. Considerando o ponto anterior, caso tivesse havido intervenção do VAR e correcta alteração da decisão do árbitro, teríamos neste momento 4 decisões corrigidas e estaríamos próximo do que são as previsões do IFAB: uma alteração de erro claro a cada 6 jogos.
7. Foram exibidos os vídeos de outros lances, dos quais destaco o possível penálti sofrido por Jardel no jogo Benfica-Sp. Braga, o golo anulado ao Sp. Braga no mesmo jogo, o pontapé de penálti assinalado sobre Bas Dost no Sporting-V. Setúbal e a falta fora da área sofrida por Marega no jogo Tondela-FC Porto. Nestes lances, o Conselho de Arbitragem, não entrando na discussão sobre se as decisões do árbitro foram correctas ou não, esclareceu que considerava que em nenhum deles o VAR deveria intervir, porque em nenhum deles se poderia considerar uma decisão claramente errada. Numa nota pessoal, concordo com a leitura do CA.
8. Não foram abordados dois lances que, a meu ver, configuram as outras duas decisões claramente erradas do VAR (para além da não expulsão do Eliseu): o lance em que o guarda-redes Moreira (Estoril), na tentativa de socar a bola, dá um murro em Marcano (FC Porto) e o empurrão que Coates (Sporting) sofreu no jogo com Vítória de Setúbal. Dois lances para pontapé de penálti.
Saúdo esta decisão do Conselho de Arbitragem em estar disponível para formar e esclarecer a opinião pública sobre o projecto videoárbitro e os seus resultados. A arbitragem fica a ganhar e, consequentemente, também o futebol!