Fosun no BCP? “Não é o projecto certo”
Jardim Gonçalves está contra o controlo do BCP pelos chineses da Fosun. “Não concordo que haja uma entidade estrangeira sem história autorizada a dominar o maior banco privado”, diz o fundador do BCP.
Como está a ver a entrada da Fosun como accionista de domínio do BCP?
Antes da entrada da Fosun, o banco foi alvo de vários aumentos de capital que somaram mais do que o seu valor de mercado, de cerca de mil milhões de euros. O que é que se passa? Não sei, mas não é uma boa situação. Não gosto que se diga que Portugal não tem capital e que tem que vir um estrangeiro comprar as empresas. O BCP foi alienado, pois um accionista que compra 30% compra a instituição. E isto só acontece quando não há confiança no valor que uma determinada administração acrescenta.
Não concorda que a equipa de Nuno Amado introduziu racionalidade à gestão...
É um Conselho de Administração que trabalha. Sempre fui contra a entrada de investidores com percentagens de domínio, e isto seja no BCP, na EDP, na REN ou na PT. Ou na Cimpor, vendida por imposição da CGD [e do anterior Governo]. Muito depois, talvez em 2012, numa conversa com Manuel Vicente [então a presidir à Sonangol], sugeri-lhe que a Sonangol, que tinha 2% do BCP quando saí do banco em 2007, descesse a sua posição de 13% [que tinha na altura da conversa, em 2012] para baixo dos 10%. Isto porque um banco não deve ser dominado por uma petrolífera. Mas a seguir a Sonangol até subiu para quase 30%. Esse não era, como não é o actual, os projecto que considero serem os certos para o BCP.
Ainda não disse o que pensa da Fosun...
Se não conheço a empresa, não a posso avaliar. Mas não concordo que haja uma entidade estrangeira sem história autorizada a dominar o maior banco privado.
Aparentemente o BCP estabilizou...
Diz-se que o BCP resolveu a sua situação e tem uma estratégia. Mas sabe qual é? Não sabe. E sem saber qual é a resposta, o pequeno investidor, aquele que entra e sai, não se envolve. E o valor da acção do BCP começou a cair [chegou a um cêntimo] dos quatro euros, em 2007, porque saíram todos os que não querem confusão, e fugiram à entrada do grupo dos sete. O pequeno investidor só virá em grande número se acreditar que a empresa tem performance. E o BCP tem que dar provas daquilo que faz. Não me falem mais na redução de pessoal e de agências. Façam. Isso é inevitável, pois já ninguém vai ao banco. O BCP pecou por ter feito o Banco Sete [online] e o Expresso Atlântico [com a Jerónimo Martins] antes de tempo.