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Senegal: escravatura infantil dos tempos modernos

Crianças dormem juntas em escola corânica. A escola não tem água canalizada e é mal fornecida de electricidade
Fotogaleria
Crianças dormem juntas em escola corânica. A escola não tem água canalizada e é mal fornecida de electricidade

No Senegal, existem cerca de 50 mil crianças, de idades compreendidas entre os cinco e os 15 anos, que dedicam oito horas por dia à mendicidade. Existe, segundo registo da Human Rights Watch e testemunho do fotógrafo português Mário Cruz, "uma prática antiga" que força os discípulos das escolas corânicas, instituições bastante comuns no Senegal, a mendigar em benefício dos seus guardiões religiosos - denominados de "marabouts". A função dos últimos, porém, ultrapassa a do ensino do Corão. "O que tenta passar como uma estrutura dedicada à educação é apenas uma estrutura de negócio para quem explora diariamente as crianças", explica o fotógrafo. "O que deveria ser uma escola é, por vezes, um lugar de tortura. São lugares onde atrocidades decorrem diariamente." Angariar dinheiro, arroz, açucar é a função principal dos talibés, como são denominadas as crianças-discípulo. Apenas na região de Dacar, são mais de 30 mil os menores que se encontram em situação de escravatura. Nem todas as crianças senegalesas, porém, frequentam estas as escolas. A carência económica ou a crença religiosa profunda estão na base da tomada de decisão dos pais que "inscrevem" os filhos nestas instituições. Mas o fenómeno ultrapassa as fronteiras do Senegal. "O tráfico de crianças assume um papel crucial nos números registados. A maioria das crianças Talibé É senegalesa, mas o número de crianças oriundas de países vizinhos, como a Guiné-Bissãu, aumentou e tornou-se uma parte importante deste fenómeno", assegura o fotógrafo. Mário tomou conhecimento das falsas escolas corânicas em 2009, durante o desenvolvimento de uma reportagem na Guiné-Bissau; lá ouviu falar de casos de crianças que estavam a ser levadas para o Senegal com o objectivo de serem escravizadas por líderes religiosos. Uma pesquisa de seis meses levou-o até ao Senegal, onde durante dois meses documentou a realidade que o P3 apresenta agora nesta fotogaleria. O seu trabalho "Talibés, Escravos dos Tempos Modernos" obteve resposta imediata do presidente do Senegal, que decretou o registo de todas as escolas corânicas no país e ordenou intervenção policial e assistência obrigatória a todos as crianças que pedem nas ruas. O projecto valeu ainda ao fotojornalista português o prémio na categoria de Assuntos Contemporâneos da edição de 2016 do World Press Photo, e, mais recentemente, o Prémio Estação Imagem.

 

"Talibés, Escravos dos Tempos Modernos" de Mário Cruz, estará em exposição no Fujifilm Festival de Fotografia de Viseu entre os dias 5 de Maio e 4 de Junho.

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Um rapaz talibé mendiga no bairro Diamaguene, em Thiès
Um homem dá dinheiro a crianças talibé em Touba, Senegal
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Talibés têm de memorizar partes do Corão diariamente, antes de sairem para da escola
O quarto de Abdoulaye (15) tem grades para que não tenha possibilidade de fuga
Jovem talibé acorrentado numa escola corânica, no Senegal
Talibés em fuga reunem-se nas margens do rio Senegal
Criança talibé dorme num banco de madeira, em Diamaguene, Senegal