Fujifilm FIF Viseu

Como é ser um sem-abrigo na Suécia?

Kimmo, 51 anos, sem-abrigo há 15 anos.
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Kimmo, 51 anos, sem-abrigo há 15 anos.

A Suécia é um país a que se associam baixos índices de pobreza e de desemprego; segundo o último relatório da OCDE, a Suécia apresenta níveis superiores à média "em todas as dimensões", nomeadamente no que toca a qualidade ambiental, envolvimento cívico, grau de educação e aptidões dos seus habitantes, taxa de emprego e média de rendimentos, saúde, bem-estar, segurança pessoal e relações interpessoais. Apesar dos invejáveis números, a Suécia continua a registar casos de pobreza e de falta de acesso à habitação. "Ainda existem pessoas na Suécia que vivem na miséria", explica a fotógrafa letã Gunta Podina na descrição do projecto Living at the Edge of Despair — que realizou a convite do Fujifilm Festival Internacional de Fotografia de Viseu. "As pessoas que são sem-abrigo saíram dos sistema em que estavam integradas e sentem dificuldade em regressar. Vamos aos factos: a maioria dos sem-abrigo têm problemas de abuso de drogas e cerca de 40% tem problemas psíquicos — a maioria tem mesmo o chamado 'duplo diagnóstico'. O principal problema é que o governo crê que o abuso do álcool e das drogas é voluntário" e consequência de uma escolha individual consciente. "Os sem-abrigo sofrem altos níveis de stress pela falta de controlo sobre a sua situação habitacional. Sentem-se isolados. A maior parte sente falta da sua família. Ser sem-abrigo é, para eles, uma experiência traumática que lhes causa danos físicos e emocionais." O acesso ao apoio social é dificultado por uma larga barreira burocrática, o que faz com que muitos desistam de obtê-lo. "A maioria já se encontra nessa situação há tanto tempo que perdeu a esperança de um dia conseguir sair desse ciclo." A fotodocumentarista teve contacto com esta população carenciada através de uma organização não-governamental chamada Meeting Point, que descreve como "uma espécie de santuário onde as pessoas socializam e criam vínculos sem qualquer obrigação". A organização, que oferece comida e roupa aos seus visitantes, é, como nome indica, um ponto de encontro de pessoas que sofrem carências sociais, económicas e habitacionais. "Além disso, também organizam celebrações natalícias e de solstício de verão, para tornar o local algo semelhante a uma casa", explica. "As pessoas que conheci no Meeting Point admitem que aquele é um lugar necessário para garantir o seu bem-estar, que lhes dá a oportunidade de conhecer outras pessoas, de obter uma refeição e peças de roupa. Muitos são visitantes há muitos anos." As pessoas que conheceu neste contexto revelaram as suas maiores ambições e as suas maiores dores. "Estas pessoas são seres humanos que fazem o melhor que sabem, tendo em conta a situação em que estão inseridas", observa. "São pessoas que sentem falta de amor e compreensão."

 

Living at the Edge of Despair, de Gunta Podina, estará em exposição no Fujifilm Festival de Fotografia de Viseu entre os dias 5 de Maio e 4 de Junho. A série fotográfica foi criada ao abrigo do projecto Piles of Trash,que tem como objectivo colocar em evidência as assimetrias socio-económicas observáveis em contexto europeu.

Gunnar, 50 anos, desempregado. ”Sinto falta da minha namorada. Estivemos juntos 7 anos”
Nataly, 40 anos, desempregada ”Sempre desejei ter filhos, uma família”
Niklas, 43 anos, desempregado ”Quero ver o meu filho novamente e arranjar trabalho”
Visitantes sem-abrigo da ONG Meeting Point
Roland, 53 anos, desempregado.
Isabella, 25, Miklas, 46, Leo e Mio. ”Precisámos de um apartamento maior para a família”
Visitantes sem-abrigo da ONG Meeting Point
Visitantes sem-abrigo da ONG Meeting Point
Visitantes sem-abrigo da ONG Meeting Point