O tempo de uma consulta
Já alguém cronometrou o tempo que um médico leva a interrogar, examinar, prescrever e dar conselhos ao doente? Quinze minutos, dizem os sábios gestores.
Quinze será algum número cabalístico? Fui pesquisar e verifiquei que o numero 15 no tarot é o número do Diabo e na tabuada da bruxa também se refere como número demoníaco na soma transversal. Mas não me parece ser esse o motivo de as consultas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) terem a duração de 15 minutos, apesar de muitos dos responsáveis pela saúde terem com frequência ideias esotéricas. Deve haver outra explicação.
Já alguém cronometrou o tempo que um médico leva a observar, interrogar, examinar, prescrever e dar conselhos ao doente? Quinze minutos, dizem os sábios gestores. Mais um estudo foi publicado: os médicos portugueses requisitam muitos exames complementares, e um estudo anterior concluiu que éramos, na Europa, quem mais prescrevia antibióticos e ansiolíticos. Quinze minutos e mais 1900 pacientes inscritos nas consultas dos médicos de família, o que é que esperavam?
Não é em 15 minutos que se esclarece, mesmo uma população com literacia, que a doença é provavelmente viral e, por isso, receitar um antibiótico é o mesmo que prescrever água. Senhores administradores, experimentem explicar a um engenheiro (nada me move contra os engenheiros, mas...) que se requisitamos uma TAC ou uma ressonância magnética ainda vamos descobrir qualquer doença que nada tem a ver com as suas (deles) queixas. Acontece tantas vezes que a Medicina resolveu chamar a esses tumores inesperados os “incidentalomas”.
E que dizer da cirurgia profiláctica, agora tão em moda desde que Angelina Jolie se fez extrair os dois seios e mais tarde se submeteu a uma ooforectomia preventiva? Mas não nos afastemos da nossa pesquisa, porque as consultas devem ser de 15 em 15 minutos. "Uma equipa de auditores do Tribunal de Contas fez contas e concluiu que, caso se assuma como ‘razoável’ o tempo de 15 minutos para o atendimento, seria possível fazer mais 10,7 milhões de consultas." (PÚBLICO, 06.08.2014). Assim teríamos médicos de família mais que suficientes no SNS.
Pesquisei nas enciclopédias de várias bibliotecas, depois no Google, e nada que me esclarecesse da razão dos 15 minutos que deve demorar uma consulta. Até que um dia, ao ler o suplemento de sábado do diário espanhol El País, deparei com a resposta ao meu problema.
Tinha acabado de ser editado no país vizinho um livro das receitas gastronómicas da actriz Audrey Hepburn (que por sinal também viveu em Lausanne à época em que eu lá estava) pelo seu filho mais novo Dotti. E a diva cozinhava em Roma para a sua família o famoso spaghetti alla puttanesca e lemos no livro que: "Se cocina muy rápido, con el fuego muy vivo. La historia dice que es un plato que se hace en solo 15 minutos, porque era el tiempo que las prostitutas tenían entre cliente y cliente.”
Eureca! Será que os novos gestores, de tanto quererem prostituir a nossa profissão, copiaram dos proxenetas italianos o tempo dos 15 minutos para assim aumentarem a produtividade?