Desiludidos com Trump, piratas informáticos divulgam arsenal cibernético da NSA
"Não te esqueças das tuas bases", avisa um grupo de hackers.
Um grupo de piratas informáticos que em 2016 alegou ter acedido a um conjunto de ferramentas de hacking da agência de espionagem norte-americana NSA, e que desde então tem tentado, sem sucesso, vender o conjunto de códigos, disponibilizou este sábado uma palavra-passe que permite desbloquear os ficheiros. A acção dos autodenominados TheShadowBrokers é anunciada como “uma forma de protesto” contra o Presidente norte-americano Donald Trump.
“Com todo o respeito, que c*** estás a fazer? TheShadowBrokers votaram em ti. TheShadowBrokers apoiam-te. TheShadowBrokers estão a perder a fé em ti”, lê-se no início de um texto publicado pelo grupo na plataforma de blogues Medium.
Em concreto, o grupo critica acções recentes de Trump como o afastamento de Steve Bannon do Conselho de Segurança Nacional, o ataque da madrugada de quinta-feira à Síria e as ligações de vários membros da Administração a grandes empresas e bancos como o Goldman Sachs. Num inglês macarrónico, os autores do texto, intitulado “Não te esqueças das tuas bases”, fazem ainda uma apologia do nacionalismo e do etnocentrismo.
Após uma primeira análise dos ficheiros, o antigo agente da NSA Edward Snowden, que em 2013 denunciou a rede global de espionagem informática da agência norte-americana e vive desde então exilado na Rússia, afirma que o que foi divulgado “não é nem de perto o arquivo inteiro [que terá sido roubado em 2016]”, mas que “há tanta coisa ali que a NSA deve ser capaz de perceber de onde é que este conjunto veio e como é que o perdeu”.
“Se não conseguirem, é um escândalo”, escreveu Snowden no Twitter. Momentos antes, o dissidente norte-americano anunciava que “a NSA acabou de perder o controlo do seu arsenal digital secreto”.
Outros observadores como a CyberScoop e a HackingNews, publicações digitais que acompanham os meandros da pirataria informática, afirmam que entre as ferramentas disponibilizadas este sábado estão sobretudo instrumentos que exploram vulnerabilidades no sistema Linux e armas que indiciam acções da NSA contra alvos na China e no Paquistão – neste último caso, através da rede telefónica móvel.
Por sua vez, o site de denúncias Wikileaks, que revelou recentemente parte do arsenal cibernético da CIA, menciona estados europeus, latino-americanos e asiáticos, incluindo o Japão, como países na mira das supostas ferramentas da NSA.
Em Agosto de 2016, TheShadowBrokers revelou amostras de código que vários analistas mencionados por publicações como o New York Times identificaram como malware (programas maliciosos) produzido para violar firewalls (barreiras de protecção) de sistemas informáticos de países como a Rússia, o Irão ou a China. O código datava de 2013, já após a fuga de Snowden, e a sua divulgação demonstrava que a agência norte-americana fora novamente alvo de uma fuga de informação em larga escala.
Na altura, vários observadores especulavam sobre possíveis ligações do grupo de hackers ao regime russo, mas a identidade dos piratas informáticos continua a ser desconhecida.
Desde o Verão, o grupo tentou leiloar a totalidade do arquivo, estabelecendo como base de licitação um valor em bitcoin superior a 500 milhões de euros. Posteriormente, e frustrado o leilão, os hackers tentaram vender as ferramentas da NSA peça a peça, por valores entre as centenas e as dezenas de milhares de euros. Agora, uma parte considerável do arsenal informático, se não mesmo a sua totalidade, é disponibilizada gratuitamente.