Afinal, o que tem Michael Flynn para dizer sobre Trump e a Rússia?

O ex-conselheiro de segurança nacional quer garantia de imunidade de acusação antes de colaborar com as investigações do Congresso e do FBI às alegadas ligações entre a campanha de Trump,

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Antigo general Michael Flynn pediu imunidade para falar sobre a campanha de Donald Trump JIM LO SCALZO/EPA

Se Michael Flynn viver pela sua palavra, não há outra forma de interpretar o seu pedido de imunidade de acusação para se apresentar perante o Congresso ou os agentes do FBI que investigam as tentativas da Rússia para interferir com as eleições presidenciais e as ligações entre a campanha de Donald Trump e agentes do Kremlin: significa que é culpado. “Quando alguém pede imunidade, quer dizer que provavelmente cometeu um crime”, considerou em Setembro o general na reforma, que depois ocupou brevemente o cargo de conselheiro de segurança nacional da Administração Trump.

Flynn, que era um dos nomes fortes da equipa constituída pelo Presidente Donald Trump, foi demitido 24 dias depois da sua entrada em funções, quando se percebeu que tinha faltado à verdade sobre o teor dos seus contactos com o embaixador da Rússia em Washington, feitos em nome da nova Administração. Percebeu-se também, pouco depois, que o antigo militar, na sua nova carreira civil de consultor, estava enredado numa teia de interesses que iam dar a Moscovo – e que segundo avançou o The Guardian, além de contratos com a estação de propaganda Russia Today e outras firmas russas, podem incluir “encontros a sós” com uma historiadora de dupla nacionalidade russa e britânica, que goza de acesso privilegiado aos arquivos das agências de espionagem russas.

Washington ficou ontem em polvorosa na expectativa do que o antigo de Trump terá para dizer sobre a Rússia. O pedido de imunidade em troca de colaboração – que aparentemente foi recebido com cepticismo pelas autoridades competentes – sugeria que, seja o que for, terá implicações consideráveis: políticas, jurídicas e porventura criminais. Como assinalava o veterano especialista em política e segurança nacional, Thomas E. Ricks, pode ser “apenas” que Michael Flynn tenha deixado de fora, em anteriores entrevistas com o FBI, factos que entretanto vieram a lume. Mas também é possível que do seu depoimento resultem novas informações realmente prejudiciais para o Presidente e a Casa Branca.

Donald Trump – que não se cansa de repetir que as notícias sobre a Rússia são fake news – reagiu rapidamente à notícia, aconselhando o seu antigo conselheiro a exigir imunidade como forma de se precaver da alegada “caça às bruxas” que ele diz que está a ser levada a cabo pelos media e democratas no Congresso para “servir de desculpa” à sua derrota eleitoral de “proporções históricas”.

Curiosamente, essa foi também a expressão utilizada pelo advogado de Michael Flynn para justificar o seu pedido: “Nenhuma pessoa, ainda por cima beneficiando de conselho jurídico, aceitaria submeter-se a interrogatório, neste ambiente de caça às bruxas altamente politizado, sem obter garantias contra acusações injustas”, lia-se num comunicado assinado por Robert Kelner.

Para alguns comentadores, a estratégia de Flynn e Trump é a única possível, e é a que faz mais sentido se a intenção é esvaziar o balão de oxigénio que estes últimos desenvolvimentos deram à oposição. A ideia é enquadrar o pedido de imunidade como uma manobra de legítima defesa perante ataques inadmissíveis, sem substância e carregados de intenções políticas. No entanto, como sublinhava à revista The Week a especialista em segurança nacional da universidade de Harvard Juliette Kayyem, apesar das manobras de distracção vindas do universo Trump, não há maneira de disfarçar que as especulações sobre o depoimento do antigo general “são péssimas notícias para a Casa Branca”. “A ideia que isto deixa é que o trilho vai directamente até à sala oval”, notou.

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