A economia está a ficar mais saudável… e realista
A economia, diz o Banco de Portugal, vai crescer mais do que o previsto e por boas razões.
A melhor notícia das projecções para a economia até 2019 que ontem o Banco de Portugal (BdP) publicou não está exactamente nos valores que assinalam a aceleração do crescimento para 1,8% este ano ou a redução da taxa de desemprego para 8% no prazo de três anos. O que merece especial atenção são os pilares que sustentam esses desempenhos. A criação de riqueza em Portugal está a fazer-se cada vez menos através do consumo interno e cada vez mais pelas exportações; o investimento vai acentuar-se (mais 6,8% este ano); o “grau de abertura”, que mede a exposição à economia internacional, vai aumentar; depois de dois anos de compras de bens duradouros (como automóveis), o consumo privado “deverá crescer em linha com o rendimento disponível real”; feitas as contas, a balança corrente (a diferença entre o que o país vende lá fora e o que importa) vai ser ainda mais positiva em 2019.
O choque frontal com a troika padeceu de inúmeros males, mas teve o mérito de recentrar as prioridades da economia. Portugal ainda não exporta valores idênticos aos registados em países da sua dimensão, como a Bélgica, a Áustria ou a Irlanda, mas é notável que entre 2008 a 2019 o peso das exportações no PIB possa crescer de 31% para 46%. Como nota a projecção do BdP, está em curso “uma marcada reorientação de recursos produtivos para sectores mais expostos à concorrência internacional”, o que é positivo para que o país tenha uma balança corrente e de capital equilibrada (ou seja, viva dentro das suas possibilidades). O tempo em que o Estado tinha meios para proteger os interesses económicos que sobreviviam sob a protecção do mercado interno é cada vez mais passado.
Portugal não tem ainda músculo para convergir com as médias de rendimento da UE. Nem vai ter tão cedo. A sua produtividade vai crescer pouco. Os rendimentos dos portugueses não deverão aumentar de forma significativa. Mas, pouco a pouco, a economia mexe, o investimento recupera, o desemprego baixa e, com o favor dos juros baixos e de uma certa retoma europeia e mundial, as perspectivas de entidades circunspectas como o BdP são mais favoráveis. Não fosse o peso asfixiante da dívida e a bulimia de um Estado que resiste a todas as mudanças, Portugal poderia viver hoje tempos bem mais esperançosos. Mas, mesmo com o PIB ao nível de 2008, a economia está muito mais saudável.