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Entre casais também há violações (e esta curta faz-nos pensar no assunto)
A realizadora Chloé Fontaine chamou à curta-metragem Je suis ordinaire — o que numa tradução livre para português significa Sou Comum, no sentido de não ser a única a viver aquela situação. E o problema reside sobretudo aí: na banalidade do retratado. Num vídeo de dois minutos, a francesa pôs em discussão um tema que é ainda tabu: a violação entre casais.
Nas filmagens, um casal jovem aparece na cama. Ele propõe que vejam Irreversível, filme de Gaspar Noé, onde, numa cena perturbadora, a actriz Monica Belluci é violada. Ela diz-lhe que esse não, ele brinca: "Tapo-te os olhos [nessa cena]." E beija-a. Ela diz que não lhe apetece ter relações. Ele insiste. "O que se passa? Já não gostas de mim?" E continua a insistir. O acto sexual inicia-se, contra o desejo dela, que aparece na imagem imóvel.
Chloé decidiu fazer a curta metragem depois de uma conversa com uma amiga, contou ao jornal El País: "Contou-me que numa noite, ao voltar a casa com o namorado, tudo corria bem até irem para a cama. Ele queria fazer amor, ela não. Ele insistiu, mais e mais. Ela continuou a dizer que não queria. Ele insistiu. Ela disse-me: 'Não queria mas era a única forma de me deixar em paz, não?'." Dias depois deste relato, a realizadora de 25 anos ouviu outro semelhante e disse à amiga que se tratava de uma violação. "Não pode ser uma violação, ele é meu namorado", respondeu-lhe. Chloé procurou outros testemunhos e "infelizmente" encontrou-os facilmente.
A curta-metragem teve um impacto significativo em França. No canal Vimeo teve mais de 700 mil visualizações e na versão com legendas em espanhol, mais recentemente divulgada, já conta com mais de 200 mil visitas. "Nunca tinha ouvido ninguém falar deste tema", admite a realizadora, para depois concluir em jeito de alerta: "É uma situação que, infelizmente, acontece muito mais do que parece."