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A sobrevivência da União Europeia

Será a declaração de Roma a abrir finalmente caminho a uma Europa a várias velocidades, uma caixa de Pandora que anda nas discussões europeias há vinte anos.

Desta vez, Jean-Claude Juncker não disse nenhum disparate. Ao desejar o regresso da Inglaterra, expressou três ideias, todas elas possíveis: que a União resista e se fortaleça, que a União se torne outra vez desejável e que a Inglaterra sofra por ficar de fora do grupo europeu. São possíveis embora, é certo, hoje pareçam altamente improváveis. A União está mais fraca hoje, enfrenta a maior crise desde o seu surgimento e pode muito bem não durar. Mas o inverso também é possível.

Não sei se as casas de apostas aceitam dinheiro de quem acredita que a União se pode aguentar mais 60 anos. Mas porque não? Porque não podemos pensar que o bom senso acabe por imperar e que a União resista, acabando por ficar mais forte? Não é impossível que aconteça, até porque é o cenário que dá mais garantias de desenvolvimento sustentado e de paz para o continente.

É verdade que os sinais não são encorajadores: o comportamento da Polónia voltou a envergonhar aqueles que esperam que os países sejam capazes de olhar para Bruxelas como algo mais do que uma caixa de reclamações onde colocam os seus desagravos de política interna. E a lentidão na preparação da Declaração de Roma antecipa um texto genérico, em que se irá celebrar de forma envergonhada a existência da União Europeia.

Mas será esta declaração de Roma a abrir finalmente caminho a uma Europa a várias velocidades, uma caixa de Pandora que anda nas discussões europeias há vinte anos e que se estivesse em vigor poderia bem ter impedido a saída dos britânicos. Parece ser o único rumo que permitirá maior integração – mesmo que leve vários países para o caminho do federalismo e permita que outros continuem nas franjas dessa integração. Não parece a melhor ideia para assegurar uma União coesa, mas a verdade é que o cenário actual também não.

Será preciso bem mais do que boa vontade. Será preciso olhar para lá dos resultados a curto prazo, deixar de usar a União como bode expiatório e criar uma ideia de Europa que possa estar de acordo com o que os povos europeus desejam. Terá de democratizar a sua estrutura, ser mais transparente e flexível. Aí pode até durar mais sessenta anos, coisa que parece absolutamente impensável em Março de 2017.  Mas antes será preciso sobreviver aos populismos da moda, e vêm aí eleições holandesas, francesas e alemãs. Lá mais para o final do ano falamos.

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