Arquitectura
Botânico de Coimbra: Traços antigos numa estufa do século XXI
Os vidros transparentes são um dos primeiros elementos a chamar a atenção, bem como o lago, em substituição dos antigos canteiros, que funciona aqui como um “espelho das especificidades do espaço”. Isto porque a intervenção que a estufa do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra sofreu permitiu recuperar características de “um edifício em mau estado” e “introduzir sistemas novos de acordo com novas necessidades”. “O que tentamos foi perceber a qualidade construtiva do edifício pré-existente”, explica ao P3 João Mendes Ribeiro, arquitecto responsável pelo projecto vencedor de um concurso de ideias lançado pela Universidade de Coimbra para reabilitar a estufa tropical. A partir daí, a obra de restauração e reabilitação de um dos primeiros exemplares da arquitectura de ferro em Portugal foi uma “tentativa de mapeamento histórico do edifício”, sendo simultaneamente um cruzamento com a arquitectura de estufas de outros países europeus (Inglaterra e Itália, por exemplo). João Mendes Ribeiro inspirou-se na história e procurou “adequar o espaço às novas tecnologias”. A recuperação da relação interior/exterior original e a reposição da transparência dos vidros, nos paramentos verticais e na cobertura, retirou a opacidade do espaço e aplicou novos vidros translúcidos e telas de sombreamento interiores (daí a total visibilidade e entrada de luz nos meses de Inverno e uma protecção total da luz solar no período de Verão). Já a ala central foi alvo de uma “grande transformação” e é onde funciona agora uma nova galeria com uma “materialidade radicalmente distinta”. “A construção existente, composta por laje, pilares e escadas em betão armado de desenho grosseiro, foi demolida para dar lugar a uma estrutura metálica ligeira e escadas em caracol de desenho mais delicado” – como se vê nas fotografias de José Campos. Já as alas oeste e poente envolveram apenas um trabalho de recuperação dos elementos, mantendo os traços originais do espaço. Apesar de o edifício ainda não estar totalmente concluído, o desenvolvimento do projecto arquitectónico e as obras já terminaram. “Até aqui o balanço que fazemos é muito positivo porque conseguimos recuperar um edifício com uma importante parte histórica sem sermos muito intrusivos”, resume o arquitecto. Localizada na Alta da cidade de Coimbra e no interior do Jardim Botânico da Universidade, a estufa vai acolher novas plantações nos próximos meses e tem inauguração prevista para Maio.