Há solos contaminados no Parque das Nações. E onde mais?
A Câmara Municipal de Lisboa vai fazer um levantamento das obras que possam envolver solos contaminados. Nas últimas semanas, o cheiro a químicos tem deixado os moradores do Parque das Nações sobressaltados.
Um grupo de moradores do Parque das Nações está preocupado com um intenso cheiro a químicos que se tem sentido nas últimas semanas junto ao terreno onde está a ser construído um parque de estacionamento subterrâneo para o Hospital CUF Descobertas. Antes da Expo 98, aquele local estava ocupado por uma refinaria de gás e ainda lá existem solos contaminados. Os moradores temem que haja riscos para a saúde pública.
“Neste momento estou mesmo em frente à obra e estou a sentir o cheiro”, explicou ao PÚBLICO a presidente da associação “A Cidade Imaginada Parque das Nações” (ACIPN), Célia Simões, a meio da tarde desta quinta-feira. Segundo a dirigente, que tem dado a cara pela preocupação dos habitantes da zona, “o cheiro começou a sentir-se muito desde as últimas duas semanas do ano passado”.
As inquietações, no entanto, já vinham de antes. Os trabalhos de escavação do terreno começaram em Julho de 2016. “Desde então, a obra tem sido acompanhada pelos serviços municipais”, lê-se num memorando elaborado pela Câmara Municipal de Lisboa e enviado às redacções esta quinta-feira. A autarquia fez três inspecções à obra (em Agosto, Setembro e Novembro) e não detectou “qualquer irregularidade, nomeadamente quanto à existência de cheiros químicos.”
Mas a José de Mello Saúde, dona dos hospitais CUF, confirmou agora que o terreno tinha, de facto, solos contaminados. “Ficou evidente na sequência da empreitada da expansão do Hospital CUF que, ao contrário do publicitado pela Parque Expo, grande parte da área abrangida não foi intervencionada”, lê-se no mesmo documento. Ou seja, não houve descontaminação. No decorrer das obras do parque de estacionamento foram encontrados vestígios de hidrocarbonetos, benzeno e derivados. Segundo o memorando, havia mais de quatro mil metros cúbicos de resíduos perigosos e mais de seis mil considerados não perigosos. Todos foram removidos entretanto.
Ainda assim, o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa pediu na quarta-feira à Agência Portuguesa do Ambiente e à Inspecção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território que digam “se foi detectada alguma irregularidade” e se são necessários “mais trabalhos com vista à total salvaguarda do interesse público”. Manuel Salgado quer saber, em particular, “se as operações de remoção dos resíduos permitem acautelar, após a construção, a saúde e a segurança dos futuros utentes daquele edifício e dos edifícios circundantes”.
Na reunião de câmara desta quinta-feira foi igualmente aprovada uma moção, apresentada pelo PSD, que incumbe o município de fazer um levantamento de “todas as obras que decorrem na cidade susceptíveis de envolver movimentação de solos contaminados”. Segundo o documento aprovado, os resultados dessa diligência têm de ser tornados públicos no prazo de trinta dias.
A preocupação de Célia Simões mantém-se, mas a responsável pela ACIPN até vê os últimos desenvolvimentos com bons olhos. “Acabámos por suscitar alguma agitação”, afirma. No domingo, um grupo de moradores concentrou-se junto à obra para exigir respostas para o problema. Foi na sequência desse protesto que o assunto chegou à Assembleia Municipal de Lisboa, onde o vereador Manuel Salgado garantiu que estava a acompanhar a situação.
Câmara procura estacionamento no Alto do Parque
Na reunião desta quinta, os vereadores aprovaram igualmente uma moção do CDS com vista à "criação de bolsas de lugares de estacionamento para residentes" no Bairro do Alto do Parque, entre as ruas Joaquim António de Aguiar e Marquês de Fronteira. Os moradores daquela zona queixam-se de não terem sítio para deixar os carros devido à concentração de hotéis, à proximidade do Parque Eduardo VII e até mesmo à prostituição, que continua a verificar-se no bairro.
A proposta do vereador João Gonçalves Pereira prevê que se estude a criação de 378 lugares de estacionamento em quatro ruas do Alto do Parque. Além disso, o centrista identificou ainda mais 17 lugares na Rua Castilho que também podem ser afectos à utilização exclusiva para moradores.