Rankings? A culpa é dos jornalistas
Há 16 anos que os colégios se põem em bicos de pés para mostrarem os seus projectos. Já as escolas públicas, só pouco a pouco, perceberam que também elas têm coisas boas para mostrar.
Há 16 anos que a comunicação social publica os rankings das escolas. A história tem mais do que 16 anos, tem os anos que o PÚBLICO andou a pedir os dados ao Ministério da Educação (ME) e estes a serem-lhe negados, até que foi dada razão ao jornal.
Há 16 anos que recebemos as bases de dados do ME e que as trabalhamos com os nossos informáticos, mas não só. Há toda uma equipa que é envolvida e começa a trabalhar antes ainda de a informação chegar. Desde o primeiro ano, que no PÚBLICO não nos limitamos a dizer que em primeiro lugar está o colégio x e em último está a escola pública y.
Há 16 anos que ouvimos os professores, sobretudo os das escolas públicas, criticarem os rankings. Dizem que são insuficientes, são limitadores, são nefastos, não lêem a realidade, promovem a desigualdade. Mas desde o primeiro ano que, repito, fazemos mais do que listagens – vamos às escolas em reportagem, pondo os alunos, professores e directores a falar; fazemos entrevistas a investigadores que sublinham a insuficiente informação que dão estas listagens antes feitas só com base nos resultados dos exames nacionais; pedimos opiniões a personalidades que revelam, tantas e tantas vezes, que não concordam com rankings.
Há 16 anos que fazemos jornalismo: pegamos nos dados; lemos; reflectimos sobre os mesmos – sabem quantos dias e quantas noites fixamos os olhos e o cérebro nas colunas do Excel, a fazer todo o tipo de selecções para descobrirmos as escolas que se destacam? Pegamos nos dados, discutimos entre nós, reflectimos com os especialistas, pensamos no enfoque a dar. Ouvimos as partes, procurando dar voz a todos – quantas vezes insistimos, insistimos e insistimos com as senhoras telefonistas das escolas para falar com a direcção e elas já sem mais desculpas para nos darem porque lá de cima ninguém quer falar.
Há 16 anos que os colégios se põem em bicos de pés para mostrarem os seus projectos, que se ofendem porque não vamos reportar o óbvio. Quanto às escolas públicas começaram, pouco a pouco, a perceber que também têm coisas boas para mostrar. Uma pena que o clique ainda não se tenha feito em todas as públicas, sobretudo nas que ficam menos bem na fotografia – uma vitória e um orgulho quando há três anos conseguimos pôr a Fonseca Benevides a mostrar um projecto único. Onde estão os projectos únicos das outras escolas? Porque têm tanto pudor em mostrar o que fazem bem?
Há 16 anos que a publicação dos rankings abriram portas a vários investigadores para se debruçarem sobre os resultados – desde 2012 que o PÚBLICO trabalha com a equipa do professor Joaquim Azevedo da Católica do Porto. Mas há outras pessoas que propõem linhas de investigação, que são pagas por fundações para trabalharem estes dados inicialmente pedidos por um órgão de comunicação social, o PÚBLICO, não é demais sublinhar.
Há 16 anos que a publicação dos rankings e as reacções à sua publicação obrigaram o Ministério da Educação a melhorar as bases de dados que têm cada vez mais informação disponivel. Puseram a tutela a pensar em rankings alternativos, que vão para lá dos resultados dos alunos nos exames nacionais, mas que se debruçam sobre os percursos dos jovens, sobre as suas famílias, sobre as suas condições de vida – porque um menino que não come raramente terá sucesso escolar; porque um menino que vive a instabilidade familiar raramente é estável na escola. São precisos mais dados, nomeadamente os das escolas privadas.
Há 16 anos que as escolas reflectem como não faziam antes sobre os seus resultados e que, se forem honestas, não procuram escolher alunos, empurrá-los para as escolas más, ou sugerir-lhes que vão a exame como alunos externos – essas são desmascaradas este ano pelo ME –, mas adoptam estratégias de melhoria.
Em suma, há 16 anos que os rankings fazem mais bem do que mal, mesmo que continuem a faltar dados, mesmo que os leitores não saibam ir além das letras gordas, mesmo que os pais e os professores fiquem ofendidos com o lugar que ocupa a sua escola, mesmo que existam órgãos de comunicação social que se limitem a divulgar que em primeiro lugar está o colégio x e em último está a escola pública y.