Europa
“Estaline é para mim aquilo que Jesus Cristo é para muitas pessoas religiosas”
“Infelizmente, Estaline não é muito popular hoje em dia”, lamenta Vasili Sidamonidze. Aos 70 anos, este construtor reformado é uma das poucas pessoas que continuam a manter viva a memória do ditador que liderou a União Soviética durante anos. Em Gori, na Geórgia, terra natal de Estaline, há quem elogie o papel do líder soviético na industrialização do então estado socialista e na defesa da Europa contra o nazismo alemão durante a II Guerra Mundial.
Ao longo dos anos os memoriais dedicados a Estaline foram sendo desmantelados pelo país mas é ainda a remoção da estátua em bronze da praça central desta cidade, há seis anos, que continua a indignar os mais fiéis dos admiradores. “Tentamos celebrar sempre o aniversário de Estaline aqui em Gori”, explica Vasili. “Infelizmente poucas pessoas se juntam, nem mesmo as que vivem perto. Ficam a olhar-nos pela janela.”
No dia 21 de Dezembro, algumas dezenas de pessoas costumam assinalar o aniversário de Estaline no exterior de um museu em Gori que lhe é dedicado. Depois de alguns discursos, caminham até à praça onde, até 2010, a estátua de seis metros de altura se impunha.
Nazi Stefanishvili, uma economista reformada de 73 anos, também cumpre essa tradição. Faz inclusivamente mais do que isso. Em casa da sua filha conserva um pequeno museu composto por memorabilia estalinista. Pinturas, livros, bustos, jornais antigos e fotografias ocupam um quarto onde entra todos os dias para “dizer bom dia a Estaline”.
Na sua maioria estes admiradores são militantes de partidos comunistas, actualmente pouco populares na Geórgia numa altura em que o país tenta escapar à esfera de influência de Moscovo e aproximar-se da União Europeia. “Não consigo dizer quantas pessoas nos apoiam mas temos sedes regionais um pouco por todo o país”, diz Jiuli Sikmashvili, líder do Partido Comunista Unido. “Infelizmente a juventude não quer juntar-se ao nosso partido por isso os nossos membros são sobretudo pessoas mais velhas.”
A mesma situação acaba por se reflectir nos admiradores de Estaline. Shalva Didebashvili tem 78 anos e uma devoção desmedida pelo antigo líder soviético e acaba por resumir numa só frase aquilo que muitos destes georgianos devem sentir: “Estaline é para mim aquilo que Jesus Cristo é para muitas pessoas religiosas”. Frederico Batista