Fomos conhecer a Sara Sirvoicar e o Pedro Caldeirão que nos receberam de portas abertas em sua casa e foi por entre fatias de chessecake num domingo acinzentado que nos contaram a história do projecto Op \/\/\ Amp. Namorados há três anos, são também a dupla por detrás desta agência cujo nome, em linguagem electrónica, significa "operational amplifier", um componente presente na grande maioria dos circuitos analógicos.
Desde 2014 que Op \/\/\ Amp passou também a significar o nome da agência que, através dos vários circuitos da electrónica nacional, tem unido esforços no sentido de se diferenciar das agências tradicionais, tentando posicionar-se antes como um colectivo que trabalha as ideias e objectivos individuais dos artistas que representa.
Tudo começou pela vontade de continuar uma parceria que já existia anteriormente entre dois amigos. Devido às alterações constantes de projectos e conceitos dentro do meio da música electrónica, perceberam que para continuar um trabalho com futuro a dois teriam de criar algo novo que dependesse apenas da sua vontade, fazendo assim prevalecer a amizade e os gostos comuns no lugar das relações mais frias e distantes entre agência e artista.
Estava assim lançado o desafio pelo produtor e DJ Mike Bek ao Pedro Caldeirão, aos quais se juntou imediatamente a Sara enquanto cabecilha do design e outros três produtores sempre com a preocupação em credibilizar este projecto e de o fazer ganhar novas proporções.
“O universo da música electrónica em Portugal é, às vezes, pequeno para tanta gente, os lugares e as boas oportunidades são muito disputadas e, apesar de se tratarem de artistas relativamente conhecidos, sabíamos que iria ser difícil levar o público a assimilar esta nova agência”, contou-nos o Pedro, que assume como um desafio a aposta que faz nos seus artistas.
À segunda fatia de cheesecake entrámos então na fase em que a Op \/\/\ Amp já tem, de facto, uma identidade. Foi então que esta vontade de não brilharem sozinhos, mas antes como um colectivo, os levou a repensar a forma como iriam colocar os seus artistas em palco. “Percebemos que queríamos trabalhar com produtores e que não bastava colocá-los em palco. Tínhamos de lhes dar espaço para que eles próprios pudessem criar sinergias com projectos nos quais acreditam.”
Nasce assim o conceito das noites Op\/\/\Amp, nas quais um nome da agência convida outros artistas para fazerem parte do line-up. É assim que depois do primeiro showcase se têm vindo a apresentar no Musicbox, casa que mais regularmente tem recebido esta família, da qual se apontam como mais antigos os elementos MMMOOONNNOOO, Klipar, JEPE e o já referido Mike Bek. Ao grupo juntaram-se mais recentemente Brutus (Rui Estevão e Señor Pelota), Rui Maia e Kaspar, assim como um conjunto de pessoas de outras áreas que se foram envolvendo e que são hoje imprescindíveis, como é o caso da Mariana Oliveira (Distorted Vision) nos visuais, o André Dinis Carrilho no registo vídeo e fotográfico e o Ricardo Crespo como técnico de som.
Aqui, a ideia mais importante é sempre a de ampliar valor, nunca desistir de quem faz parte da família e continuar a alargá-la, explorando novos caminhos, sonoridades e influências. As experiências, essas, também não têm parado de aumentar e é de sorriso na cara que o casal nos conta sobre as noites Brutus - Onda Média que transformam o Lounge em Lisboa num estúdio com uma emissão de rádio ao vivo, ou sobre MQNQ que nasce da mais recente colaboração de MMMOOONNNOOO com o baterista de PAUS Quim Albergaria, tudo isto entre malas e bagagens prontas para visitarem o Porto, uma conquista também há muito desejada.
Já sem cheesecake, atrevemos-nos a perguntar-lhes se nos queriam contar alguma curiosidade deste trajecto. Contaram-nos que, quando a certa altura, se lembraram de fazer um convite especial que pensaram ao pormenor para uma das noites, o mesmo não foi entendido por toda a gente da mesma maneira, gerando reacções inesperadas quanto à finalidade do objecto que acompanhava o convite: um verdadeiro opamp.
Arrumada a cozinha e umas quantas horas de conversa depois, apercebemo-nos que talvez estes imprevistos com o convite signifiquem muito mais do que isso. Não é apenas uma simples mensagem que pode sair ao lado, mas sim a necessidade de olharmos para o valor dos artistas nacionais de uma forma diferente e atrevermo-nos a apoiar, não só agências como a Op \/\/\ Amp, mas tantos outros projectos locais que tanta ambição têm demonstrado para irem fazendo algo diferente por cá. Obrigada, Op \/\/\ Amp.
Vemos-nos dia 26, na pista do Passos Manuel, no Porto.