Paulo Ribeiro, uma “locomotiva” à frente da Companhia Nacional de Bailado

Rui Horta e Tiago Guedes elogiam nomeação do coreógrafo como novo director artístico da CNB. E Fundação EDP confirma renovação do contrato de mecenato para 2017.

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Paulo Ribeiro fotografado no Teatro Viriato, em 2008 Adriano Miranda

A expressão é de Rui Horta, seu amigo e companheiro de profissão há mais de três décadas: “O Paulo Ribeiro é uma locomotiva, que movimenta sempre muitas pessoas com ele. É uma boa escolha.”

O coreógrafo e fundador do centro multidisciplinar de pesquisa e criação O Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, refere-se assim à nomeação de Paulo Ribeiro para a direcção artística da Companhia Nacional de Bailado (CNB), onde vai substituir Luísa Taveira – que, por sua vez, transita para a administração da Fundação Centro Cultural de Belém.

As duas nomeações foram anunciadas no início desta semana pelo Ministério da Cultura (MC), que, sobre Paulo Ribeiro, disse tratar-se de “um bailarino e coreógrafo de reconhecido mérito nacional e internacional, que criou a sua companhia em 1995 e, com ela, diversas obras emblemáticas na história da dança contemporânea”.

“Vejo esta escolha como natural. Havia mais um ou dois nomes que podiam ocupar o lugar, e o Paulo faz parte desse núcleo muito restrito”, diz Rui Horta, 59 anos, sem contudo nomear as outras alternativas, “para não dar origem a más interpretações”.

Também Tiago Guedes, 38 anos, director do Teatro Municipal do Porto, recebeu “com grande expectativa e entusiasmo” a notícia de que Paulo Ribeiro irá suceder a Luísa Taveira à frente da CNB. “É um dos grandes profissionais da dança em Portugal, com uma longa experiência, tanto com a sua própria companhia como na direcção do Teatro Viriato”, disse Guedes, lembrando ainda a passagem pelo Ballet Gulbenkian, de que foi o último director (2003-05).

Nascido em Lisboa, Paulo Ribeiro fez carreira de bailarino em várias companhias belgas e francesas. E foi em Paris, em 1984, que se estreou como coreógrafo, na companhia Stridanse, que ajudou a fundar. No final dessa década, regressa a Portugal, onde começa a colaborar com a Companhia de Dança de Lisboa e com o Ballet Gulbenkian. Na década de 90, o seu nome volta a ultrapassar as fronteiras com criações para companhias como a Nederlands Dans Theater (Holanda), o Grande Teatro de Genebra (Suíça) e o Centro Coreográfico de Nevers (França).

Em 1995, Paulo Ribeiro funda a sua própria companhia (no ano passado festejou o 20.º aniversário com a criação A Festa (da insignificância)), e três anos depois, passa a conciliar a actividade de criador com a direcção do Teatro Viriato / Centro Regional das Artes do Espectáculo das Beiras, em Viseu. Em 2003, comissaria o programa de Dança de Coimbra – Capital Nacional da Cultura e no mesmo ano passa a dirigir o Ballet Gulbenkian, até à sua extinção em 2005. Um ano depois, regressa à direcção do Teatro Viriato, de onde agora “salta” de novo para Lisboa, para a CNB.

A Companhia Nacional de Bailado é, de resto, uma estrutura que Paulo Ribeiro conhece bem e para a qual já teve oportunidade de criar: Lídia (2014); uma coreografia para o filme de João Botelho, La Valse (2012); e Du Don de Soi, sobre outro cineasta, o russo Andrei Tarkovsky (2011).

Continuidade e diferença

Ainda que nem todos os contactados pelo PÚBLICO tenham querido comentar a nomeação de Paulo Ribeiro para a CNB, esta parece recolher boa aceitação no sector. Tiago Guedes realça a sua experiência múltipla – bailarino e coreógrafo, mas também director artístico e gestor – como “uma mais-valia para enfrentar os novos desafios” à frente da companhia.

Tanto o director do Teatro Municipal do Porto como Rui Horta coincidem em que o facto de Paulo Ribeiro ir suceder a Luísa Taveira lhe traz uma responsabilidade acrescida. “A Luísa Taveira fez um trabalho muito consolidado, e imprimiu a sua marca; o Paulo vai ter de criar a sua, e vai poder fazê-lo também nas questões estéticas puras da programação”, diz o coreógrafo d’O Espaço do Tempo.

Outro desafio elencado por Horta é a necessidade de “assumir a direcção artística de uma estrutura muito complexa, com vários dossiers pendentes, que ele tem de enfrentar e resolver”. E cita a reforma dos bailarinos, a face mais visível da gestão das carreiras, um assunto complicado que começou a ser trabalhado pela direcção anterior.

“O mais importante é fazer uma liderança baseada no conhecimento, no respeito e também no fascínio e no entusiasmo, e o Paulo tem isso tudo”, acrescenta Rui Horta, para quem o novo director da companhia dançou na peça Linha, há já perto de três décadas.

Já Tiago Guedes espera também que Paulo Ribeiro dê continuidade ao consulado de Luísa Taveira, que “conseguiu, com grande eficácia, criar uma companhia de reportório, mas com uma actividade muito actual, convidando novos coreógrafos”. E também que prossiga o programa de digressões, que, de resto, têm feito com que a CNB se tenha vindo a apresentar no Teatro Rivoli, no Porto, duas vezes por ano – a próxima visita estando já agendada para Março de 2017, com a criação iTMOi - In the name of Igor, do britânico Akram Khan, um dos mais celebrados coreógrafos da actualidade.

Contactado pelo PÚBLICO, Paulo Ribeiro disse não querer falar antes da tomada de posse, cuja data – segundo o gabinete do MC – está a ser estudada tanto com o coreógrafo como com Luísa Taveira (deverá ocorrer ainda em Novembro).

Assegurada está, soube o PÚBLICO junto da EDP, a continuidade do apoio desta empresa à actividade da companhia. “A Fundação EDP é mecenas da CNB desde 1998, sendo mecenas principal da companhia e mecenas exclusivo da sua digressão desde 2008. É nossa intenção continuar a apoiá-la por considerarmos a excelência e criatividade do trabalho realizado pela companhia e o papel que desempenha na construção de novos públicos para a dança”, disse Miguel Coutinho, administrador e director-geral da fundação.

Este ano – e segundo números divulgados pelo ministério da Cultura–, a CNB recebeu da EDP 300 mil euros para a programação, a que se somam 100 mil euros destinados em exclusivo à digressão nacional.

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