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Campanha quer acabar com captura e abate ilegal de aves
Todos os anos cerca de 130 mil aves selvagens são capturadas ou abatidas ilegalmente em Portugal. A maioria destina-se a comercialização ilegal ou cativeiro. No entanto, os passarinhos continuam a ser os mais capturados para servir de petiscos tradicionais em restaurantes. A pensar nas aves que são vítimas de captura e abate ilegal, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) — organização não-governamental sem fins lucrativos que promove o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal — lançou uma campanha para alertar e denunciar estas situações. “Quando retiramos uma ave à natureza para efeitos de população de aves selvagens isso é uma morte e há muitas mortes que derivam da captura ilegal”, diz ao P3 Julieta Costa, coordenadora da campanha. “Os animais que chegam à gaiola são muito menos do que aqueles que foram capturados porque há uma grande mortalidade associada ao cativeiro.”
Segundo a responsável pelo projecto, as aves selvagens têm ainda outros dois destinos. “Um é o abate ilegal que é feito com o objectivo de fazer um controlo de predador em que as aves de rapina são vistas como um factor de competição pelos animais sinergéticos, em vez de serem vistas como bons controladores de pragas, e, portanto, são colocadas armadilhas contra estas aves”. “E há ainda o efeito de uma captura essencialmente dirigida a pequenos pássaros que é feita com recurso a armadilhas de arame ou com redes que os matam ou ferem e que se destinam à alimentação, nomeadamente a petiscos tradicionais”, explica Julieta Costa.
“Muitos restaurantes nem sequer têm noção que é uma actividade ilegal e, portanto, as coisas vendem-se por baixo da mesa e através do passa-a-palavra”, acrescenta. Esta época de outono é propícia à captura ilegal de milhares de aves migradoras com recurso a armadilhas ou redes. O maior foco da campanha é o Algarve, uma das zonas mais problemáticas de captura ilegal de pássaros para petisco por se tratar de um ponto de paragem e recuperação nutricional das aves migratórias, antes de completarem a travessia para África. Os passeriformes – mais conhecidos como pequenos pássaros - como os piscos de peito ruivo ou os pintassilgos passam por Portugal em grande número e, por isso, são as aves mais capturadas. “As aves de rapina, e qualquer espécie de ave como patos selvagens, gralhas ou corvos, também são capturadas ilegalmente, mas como os números são mais pequenos também o número de grandes aves capturadas é menor. O número de rapinas capturadas e abatidas ilegalmente poderá ascender a três centenas por ano”, refere Julieta Costa.
Face a estes números, a nova campanha contra a captura e abate ilegal de aves em Portugal – a decorrer até ao mês de Dezembro – é uma forma de incentivar o público a tomar uma atitude correcta em relação a esta actividade, o que pode passar por alertar as autoridades sobre a presença de armadilhas ilegais. “Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a captura e abate ilegal de aves é uma actividade que se mantém nos dias de hoje com bastante dispersão apesar de ser uma actividade dos tempos antigos, inclusive pode estar a ser potenciada tanto pelo comércio de aves online como pelos novos meios de captura como, por exemplo, os chamarizes electrónicos”.