Quem tem psoríase diz que sente na pele o preconceito

Doentes e médicos debateram doença que atinge 250 mil portugueses.

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Luís Filipe Borges participou numa mesa redonda promovida pela a Associação Portuguesa da Psoríase (foto de arquivo) Nuno Ferreira Santos

Luís Filipe Borges nasceu na ilha Terceira, nos Açores, e é apresentador de televisão e comediante. Depois de “tentar vários produtos para o cabelo e nada resultar”, por achar que era “só caspa”, aos 21 anos soube que tinha psoríase. A doença afecta-lhe o couro cabeludo, sendo que a sua imagem de marca — a boina que sempre fez questão de usar nos programas — servia para “esconder” a doença.

Na escola, foi vítima de humilhação quando a caspa lhe caía para os ombros. “Quando tinha surtos mais violentos [sem saber ainda que se tratava de psoríase] sofria bastante” e houve mesmo um dia em as humilhações passaram das palavras à agressão. “Lembro-me de um dia em que um miúdo — que espero que esteja bem de saúde —, me deu pancadas na cabeça para a caspa sair”.

Na sexta-feira, a propósito do Dia Mundial da Psoríase, que se assinala neste sábado, 29 de Outubro, Luís Filipe Borges participou numa mesa redonda, em Lisboa, promovida pela Associação Portuguesa da Psoríase, com o apoio da Lilly Portugal. O encontro juntou profissionais de saúde, doentes e representantes da indústria farmacêutica.

Estima-se que a psoríase afecte, em Portugal, 250 mil pessoas, de acordo com dados da PSOPortugal — Associação Portuguesa da Psoríase. Trata-se de uma doença inflamatória, autoimune. Não é contagiosa. Apresenta-se, em geral, sob a forma de lesões avermelhadas na pele, espessas e descamativas. Afecta tanto homens como mulheres. Os medicamentos já são comparticipados, mas muitos dos cremes necessários para o tratamento ainda não o são, porque são considerados produtos de estética.

“A doença não dói fisicamente, mas dói psicologicamente”, contou outro doente, Vítor Baião, que tem psoríase há 30 anos. “Sofremos com o preconceito e isso dói muito mais do que qualquer doença.”

Diz que “ainda há muita ignorância sobre o contágio”. E relata um caso: “Por causa de outra doença, fui recomendado pelo meu médico a fazer hidroginástica e quando fui a uma clínica para me inscrever viram as marcas que tenho nas costas e disseram que não podia fazer lá as aulas, porque os ‘outros’ não iam querer ter-me na aula.”

O presidente da PSOPortugal, Jaime Melancia, reforçou a necessidade de abordagem ao problema ser multidisciplinar — dermatologia, psicologia, reumatologia. E defendeu, em comunicado: “É urgente que as autoridades portuguesas se comprometam a definir e implementar um plano nacional de tratamento da psoríase, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde.”

Texto editado por Andreia Sanches

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