Amália Rodrigues, pensativa, com as duas mãos na cintura, tem o tamanho de um prédio de seis andares. Carlos Paredes está sentado a dedilhar a sua guitarra em frente à Estação de Metro Amadora-Este. E Zeca Afonso, descontraído, olha para Amália do outro lado da rua. “Estes murais são uma forma de manter a história viva”, diz Odeith, artista que pintou estas personagens em paredes com cerca de 20 metros de altura. Fachadas de prédios situados em locais movimentados da cidade funcionam agora como uma galeria dos “marcos da nossa história”. O realismo e técnica de Odeith “dá para agradar aos mais velhos porque conhecem bem estas personagens e levar os mais novos a pesquisar quem eles são”. O desafio, lançado pela Câmara Municipal da Amadora e por Catarina Martins, responsável pelo projecto “Conversas na Rua” que decorreu durante o mês de Setembro, passa por promover a arte urbana na cidade, ao mesmo tempo que homenageia figuras emblemáticas da cultura portuguesa — o "writer" português já tinha pintado tributos a Nicolau Breyner, a José Saramago e a Vicente Inácio Martins, um jovem vendedor de pássaros. Desta vez, ao artista foi incumbida a tarefa de escolher os temas, uma aposta ganha: “É bom ver pessoas com 70 anos a tirar fotografias e a dar os parabéns”, comentou Odeith que já leu críticas positivas na sua página de Facebook a dizer que as obras são “um privilégio para quem mora na zona”. E o projecto pode continuar já no próximo ano. “Poderão existir mais murais”, refere Sérgio, “mas ainda não posso revelar de quem serão”.