O primeiro público dele são as mulheres
Tem uma marca própria há apenas três anos, mas já é reconhecido no meio da moda em Portugal. Este domingo, na ModaLisboa, Luís Carvalho apresenta uma colecção com cor e rock. Muito rock.
Luís Carvalho é um dos novatos da moda portuguesa que começa a dar cartas – a sua marca própria tem três anos e as colecções são apresentadas semestralmente na ModaLisboa, mas é com os editoriais de moda de revistas ou com eventos mediáticos, como os Globos de Ouro, que ganha maior visibilidade e vende mais. “Em três anos aconteceu uma coisa incrível. Já tenho protagonismo e a máquina já está em andamento. É um patamar enorme para uma marca tão nova”, diz.
Na manhã do primeiro dia da ModaLisboa, ainda com as bancadas da sala principal de desfiles a serem organizadas e os testes de luz em curso, Luís Carvalho reconhece a um canto a bola de espelhos que vai fazer brilhar o cenário da sua colecção Primavera/Verão. O tema é o rock, a loira Debbie Harry dos Blondie é a inspiração e é a primeira vez que trabalha materiais como as lantejoulas ou os cristais Swarovski. Apesar de a marca ser ainda jovem, quis refrescá-la – num mundo global, do qual a indústria da moda é reflexo, sentiu “necessidade de mudar”, agitar um bocadinho e fazer “uma festa” na passerelle, tão formatada para os desfiles rápidos.
Luís Carvalho é um designer de moda feminina e masculina. Há três anos, quando começou a apresentar-se na plataforma LAB, de micromarcas, do evento, só desenhava para mulher. Depois sentiu necessidade de desenhar roupas para si para misturar com básicos que já tinha no guarda-roupa e começou a receber pedidos de amigos. No Verão 2015 criou as primeiras peças de homem para venda – são as que considera mais desafiantes desenhar porque têm de ser “diferentes” do que há nas lojas mas ao mesmo tempo “vestíveis” – e desde então tenta sempre “encaixar o homem na colecção de mulher”. “Mas dou prioridade à mulher. É o meu público.” Um público que gosta dos seus vestidos longos, simples mas femininos.
Vestir figuras públicas em eventos como os Globos de Ouro, organizados pela estação de televisão SIC e pela revista Caras, é uma das melhores apostas que poderia fazer, admite, ainda que seja necessário “escolher” pessoas que se identifiquem com a marca. E relembra o primeiro retorno que teve, em 2014: “Vesti a Vitória Guerra, a Teresa Tavares e a Joana Ribeiro. Ainda não era muito conhecido, só tinha feito uma edição da ModaLisboa, mas a cerimónia foi num domingo e na segunda seguinte ligou-me uma rapariga a pedir-me os três vestidos para o fim-de-semana seguinte. Ainda estavam com elas e não estavam limpos mas a cliente disse que os queria mesmo assim.”
Luís Carvalho tem os pés bem assentes na terra. Nos planos está um showroom numa capital europeia de moda mas, primeiro, precisa de perceber até onde pode investir e a melhor maneira de o fazer sem atropelar ninguém. “Quero estabelecer mesmo a marca em Portugal. Penso muito no negócio. Eu quero fazer isto por muitos anos. Não quero que este ano seja muito bom e depois para o ano tenha de deixar de fazer uma colecção”, diz ao PÚBLICO. Acima de tudo, reforça, quer fidelizar clientes.
Quando começou a marca, depois de dois estágios com Filipe Faísca e Ricardo Preto e uma temporada na marca portuguesa de jeans Salsa, pensou que precisaria de cinco anos de investimento para conseguir abrir uma loja própria mas a rápida evolução antecipou os planos e em Novembro de 2014 abriu uma, com atelier, em Vizela. Lá, ao contrário do que aconteceria em Lisboa, tem menos concorrência, um investimento menor, mais vendas, resume. “Tenho os meus fornecedores todos ali perto, dou aulas de design de moda em Guimarães, onde tirei o curso. É mais barato e consigo trabalhar de lá para cá.” A facturação anual da marca Luís Carvalho, aquilo que efectivamente vende, está nos 50 mil euros, com um investimento de 36 mil.
Com o actual volume de negócio, Luís Carvalho ainda consegue fazer todas as peças no seu atelier, onde tem uma assistente e uma costureira fixas e outra que chama sempre que precisa de fazer reproduções para loja, mas antevê que o aumento de encomendas traga a necessidade de começar a trabalhar com fábricas. “É difícil porque as minhas quantidades para uma fábrica são amostras”, diz.
Este domingo, encerra mais uma edição da ModaLisboa. “Tenho de procurar cativar cada vez mais. O último desfile de um evento destes deixa as pessoas ainda mais expectantes. Na última edição senti essa pressão.” O Verão de Luís Carvalho tem muito vermelho, rosa forte, azulão, verde. Menos minimalismo, mais espectáculo. Sorri: “É para fechar em grande. É a segunda vez que fecho a ModaLisboa. É para partir tudo.”