BE quer criar comissão para apurar responsabilidades no caso da 2ª Circular

O líder do partido na Assembleia Municipal de Lisboa entende que “há muitas perguntas por responder” e sugere um prazo de três meses para a conclusão dos trabalhos. Medina diz não ter qualquer indício de falhas dos serviços.

Foto
As obras na segunda circular foram suspensas no início de Setembro Nuno Ferreira Santos

Por acreditar que “há muito que é preciso explicar” sobre o caso, o Bloco de Esquerda propõe que seja criada, na Assembleia Municipal de Lisboa, uma “comissão eventual de inquérito à empreitada de requalificação da Segunda Circular”. O objectivo, explica Ricardo Robles, é que “sejam apuradas todas as responsabilidades, todos os factos, todos os intervenientes, todos os responsáveis” deste processo.  

A proposta foi apresentada esta terça-feira na assembleia municipal e deverá ser discutida na próxima semana em conferência de representantes. Aquilo que o BE sugere é que a referida comissão inclua representantes das dez forças políticas representadas neste órgão municipal e desenvolva o seu trabalho, de “apuramento dos factos que levaram à anulação do concurso público da Empreitada de Requalificação da Segunda Circular”, durante três meses.

“A transparência e a responsabilidade não podem apenas ser invocadas, têm que ser exercidas”, sustentou o bloquista Ricardo Robles, acrescentando que “compete” à assembleia municipal “a responsabilidade e a transparência de fiscalizar o executivo municipal”. “E o que se passou na Segunda Circular exige o nosso empenho nisso”, rematou.  

O líder da bancada bloquista considera que “há muitas perguntas por responder” neste processo. Entre elas, enunciou, a de saber se a Consulpav (a empresa que foi consultora da obra e que está no centro desta polémica) é de facto fornecedora do pavimento que ia ser utilizado, se tinha capacidade para o fornecer para a totalidade da empreitada, se o vendia em exclusividade e se foi ela que forneceu o material em causa para o troço já em construção.

Ricardo Robles quer também ver esclarecido “quem definiu o caderno de encargos”, “quem aceitou o material alternativo em questão”, se o júri do concurso ouviu a Consulpav antes de concluir o relatório em que recomendava a anulação do concurso e se não era possível manter o procedimento excluindo a empresa de ser fornecedora.

A proposta do BE levantou dúvidas à assembleia municipal, incluindo à sua presidente. “Não está previsto nas nossas competências a criação de comissões de inquérito”, afirmou Helena Roseta, defendendo que é preciso esclarecer se a iniciativa agora sugerida “tem enquadramento legal ou não”.

Mais taxativo foi o socialista Pedro Delgado Alves: “Existem competências às quais esta assembleia municipal está adstrita. E realizar comissões de inquérito é algo que não resulta nem do regimento nem da lei e não é uma função de um órgão municipal como uma assembleia municipal”, afirmou, acrescentando que “há possibilidade, obviamente, de obter todos os esclarecimentos junto do município” sobre a Segunda Circular.

Face a essas intervenções, o BE acabou por deixar cair a expressão “comissão de inquérito” da sua proposta, recentrando-a na criação de uma “comissão eventual”. Esta última figura está prevista no regimento da assembleia municipal, no qual se estipula que as comissões eventuais “são constituídas para a prossecução de um objectivo determinado, extinguindo-se quando o mesmo seja concluído”.

Na reunião desta terça-feira ouviram-se várias vozes em defesa da decisão do presidente da câmara de anular o concurso para a requalificação da Segunda Circular entre o Nó da Buraca e o Aeroporto. Entre elas a de Ana Gaspar, dos Cidadãos Por Lisboa, que elogiou Fernando Medina porque este “ousou ser transparente e dizê-lo muito claramente a toda a população”.

“Temos felizmente um presidente de câmara que ousa ir à televisão e dizer houve um erro, suspende-se e será julgado”, disse a deputada. “Nós chamamos a isto transparência, chamamos a isto a beleza da poesia do que fazemos diariamente”, acrescentou, concluindo a sua intervenção com um entusiástico “bravo”.

Já José Leitão, líder da bancada do PS, sublinhou que a requalificação da Segunda Circular “é um projecto extremamente importante para a cidade”, mas salvaguardou que “as obras não podem ser feitas a qualquer preço e de qualquer maneira, ao preço da idoneidade e seriedade dos procedimentos”. Por sua vez Rute Lima, eleita pelo mesmo partido, desdobrou-se em elogios a Fernando Medina, que em sua opinião agiu com “máxima e inequívoca responsabilidade, coragem e seriedade”.

Pelo CDS, Diogo Moura defendeu que há “suspeições, indícios” que “devem ser investigados” e que “é preciso apurar responsabilidades” neste processo, mas aconselhou também “prudência”. Em nome do PEV, Cláudia Madeira falou numa “confusão total” e acusou o executivo camarário de “falta de rigor”, enquanto Vasco Santos, do MPT, se manifestou preocupado com as indemnizações que a câmara pode vir a ter que pagar.

No encerramento deste debate (que ficou marcado pelo completo silêncio do PSD), Fernando Medina acusou a oposição de “criticar por criticar” e de “dar voz” a quem não ficou satisfeito com a sua decisão de anular o concurso e frisou ter actuado “na estrita defesa do interesse público, seguindo sempre os mais elevados padrões éticos”.

“Não há, de tudo quanto conheço deste processo, algo que possa ser criticável”, afirmou o autarca referindo-se à actuação dos serviços municipais. “Não tenho indício de que tenham tido qualquer falha”, conclui, lembrando no entanto que já determinou a realização de um inquérito interno com vista ao “apuramento cabal dos factos”.     

Sugerir correcção
Ler 1 comentários