Líder da JS dispara contra Passos e passa ao lado das eleições autárquicas
João Torres diz que “quem passa a vida a anunciar o diabo acaba por ser diabolizado nas urnas”.
O secretário-geral da Juventude Socialista (JS), João Torres, escolheu a rentrée da estrutura a que preside para disparar sobre o líder da oposição, declarando que “nenhum jovem deve perdoar" a Pedro Passos Coelho o facto de "se apresentar ao país como um líder que mais parece o presidente da comissão liquidatária da oposição em Portugal”.
“Dr. Pedro Passos Coelho, se o país incorre em tão sérios riscos com a governação do PS, faça o favor de dizer ao que vem e o que propõe: não é só o seu partido que não entende, é mesmo todo o país que precisa, justamente, de uma oposição à altura das suas responsabilidades”, desafiou João Torres.
Fazendo de Passos Coelho o alvo das suas críticas, o dirigente da JS aludira à ameaça deixada pelo líder do PSD de que em Setembro viria o diabo para dizer que “quem passa a vida a anunciar o diabo acaba por ser diabolizado nas urnas”. Empenhando em separar águas, elogiou indirectamente António Costa por ter colocado o país na “trajectória da justiça social quando o Governo iniciou a reposição de direitos sociais e de rendimentos” e mostrou-se satisfeito com o facto de o desemprego estar a baixar.
Mas entende que é preciso fazer mais. “Temos a ambição – e a obrigação – de chegar mais longe”. E daqui partiu para um novo ataque ao Governo de direita de Passos. “Nos últimos anos, a trilogia de sonegação de direitos sociais, ancorada no desemprego, na precaridade e na emigração, encontrou no PSD e no CDS governantes resignados e receptivos ao seu brutal agravamento”, disse. Para logo acusar o anterior executivo de, em apenas dois anos (2014 e 2015), “ter esgotado sem critério ou qualquer selectividade 2/3 de todos os fundos comunitários” que Portugal tem à sua disposição até 2020 “para mitigar o impacto social do flagelo do desemprego”.
“É fundamental mudar o paradigma: o paradigma dos baixos salários, o paradigma dos recibos verdes, o paradigma dos contratos a termo”, defendeu João Torres, na intervenção que fez este domingo na sessão de encerramento da rentrée política da JS.
Em relação ao próximo Orçamento do Estado, deixou claro que “em áreas como a Educação, Ensino Superior, Habitação e Mobilidade, a Juventude Socialista não esquecerá a sua agenda política na discussão do OE”.
Curiosamente, as eleições autárquicas ficaram de fora do discurso do líder da JS, como acontecera com António Costa.
Mas João Torres aproveitou ainda o palco para deixar a sua marca relativamente à Europa, acusando Bruxelas de “não conseguir responder aos principais desafios que se lhe colocam, desde logo, no que diz respeito à crise dos refugiados, uma causa cara à JS”. “Perdemos uma Europa de esperança, de solidariedade e de futuro, para dar lugar a uma Europa dominada por interesses económicos e financeiros, não-sociais. É tempo de dizer basta a esta Europa e é tempo de pôr um travão à permanente falta de respeito pela democracia portuguesa, pela vontade popular”, declarou.
E depois de criticar o ministro alemão Wolgang Schäuble por ter afirmado há dias que “quando os líderes de partidos socialistas se encontram não sai, na maioria das vezes, nada de muito inteligente”, o dirigente da JS avisou: ”Não aceitamos lições de moral dos países do Norte, mas muito menos aceitamos lições de moral de democratas-cristãos ou conservadores no Norte da Europa, aliados do PSD e do CDS no Parlamento Europeu.”