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Jardim Sagres Fest: uma ode à diversidade nos Açores
Emoldurado por uma colossal figueira australiana que mais parece vinda de um filme fantástico (daqueles com elfos, duendes, gnomos e uma pitada de magia), Nuno Pereira, vocalista dos TIO, atira uma frase que encerra em si toda uma liturgia: "A música é como os jardins: demora tempo, mas fica bonito". Comprova-o um simples olhar em redor para o idílico cenário do Jardim António Borges, em Ponta Delgada, onde nos encontramos a escutar a banda açoriana. E a sentença ainda faz mais sentido se pensarmos que estamos no Jardim Sagres Fest, festival de despedida do Verão realizado no passado fim-de-semana que que ser — e é — mais do que isso. Não só porque à música se aliam outras actividades, como bancas de artesanato, cinema, performances de artistas de rua, "workshops" e cortes de cabelos "à la" Mister Teaser, mas também porque o local, repleto de árvores exóticas e recantos românticos, é a sua assinatura. Como que um aperitivo para uma ilha, e um arquipélago, de Natureza em estado puro. "Adorava escrever um disco aqui, com esta inspiração atlântica", confessaria na noite seguinte Pedro Tatanka a meio do enérgico concerto dos The Black Mamba, uma pontentíssima máquina de groove ao vivo. "Nunca estraguem este lugar, com turistas e 'tuk tuks'. Este lugar é lindo assim, virgem." Fica o aviso. A recente liberalização do espaço aéreo nos Açores traz riscos, claro, mas nota-se que algo está a efervescer. Há um circuito de arte pública para ver, herança do Walk & Talk, e "free tours" a aparecer (e um ou outro "tuk tuk"). Surgem pequenos festivais de música e brotam outros negócios. Aos clássicos — as inesquecíveis lagoas das Furnas, do Fogo e das Sete Cidades ou o "pico com chocolate" das pastelarias sem hora de fecho — junta-se o novo: há o Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas para ver, o Arco 8 para terminar a noite. E do passado se faz amanhã: enquanto não se desvenda o futuro do incrível edifício do Hotel Monte Palace, o tapete de mosaicos que o catalão Javier de Riba pintou devolve-lhe algum do anterior aparato. O Louvre Michaelense também vive uma outra reencarnação, tal como o próprio Jardim António Borges, que a associação cultural CRACA quer devolver à cidade com o festival que inventou. De acordo com a organização, a segunda edição do Jardim Sagres Fest atraiu 2.700 pessoas e foi um "sucesso", diz Filipe Mota, que quer manter a rota da diversidade — uma primeira noite, de sexta, marcadamente mais alternativa para "mostrar coisas novas", como Benjamim e Phil Mendrix, e uma segunda, de sábado, com propostas mais "mediáticas", como D8, um sucesso confirmado entre as camadas mais jovens, ou The Black Mamba. E tudo isto pode conviver serenamente. "Se no mesmo espaço temos cinema, pintura, artesanato, um leque variado de música também faz sentido", conclui o organizador. Mesmo que a primeira opção pareça atrair menos público. "Queremos mostrar a variedade que há na música, inclusive realidades menos conhecidas. O festival deve ser lido como um todo." Será para continuar para o ano, também no final do Verão, e, se tudo correr bem, cumprindo o desígnio de rumar a outras ilhas: "a Terceira é uma forte possibilidade", avançou Filipe ao P3. Mais um jardim, mais uma festa, mais uma ilha, como dizíamos. AR
A jornalista viajou a convite do Jardim Sagres Fest