Um homem sério
Todos tínhamos percebido menos Pedro Santana Lopes. Agora, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos veio explicar: era apenas ironia.
Um dos piores males humanos, não circunscrito a Portugal, mas abundante q.b. entre nós, é a auto-consideração. Os portugueses levam-se muito a sério, têm demasiadas certezas absolutas e ofendem-se por pouco. A história dos duelos não é mais do que a história dos homens com excesso de auto-consideração. De todas as figuras retóricas, a ironia é a mais incompreendida. Em 2004 Santana Lopes teve essa dificuldade. Viu numa ironia um insulto capaz de pôr em causa, “de forma grave e séria”, o seu bom nome pessoal e profissional e, além disso, a sua capacidade para ser primeiro-ministro. Esta era a frase: “Será um delírio provocado por consumo de drogas duras, uma nova originalidade nacional ou apenas um disparate sem nome?” Santana Lopes é um homem sério e com homens assim não se brinca. Pediu 150 mil euros. O tribunal deu-lhe razão, mas baixou para 30 mil. Doze anos depois, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos veio dizer o contrário e lembrar que o jornalista quis, “como é evidente”, ser irónico. E apenas isso.