Sean Bonney, europeu, britânico e poeta político

Cartas contra o Firmamento foi editado. Esta é uma poesia política, afirme-se sem qualquer modalização ou atenuante. É-o na assunção de um real repetidamente registado e apostrofado. Isto aconteceu mesmo.

Foto
O seu trajecto biográfico percorre uma linha que rasga o mapa do território inglês. Nascido no Sul, em Brighton, cresceu no Norte, em Hull, mas foi em Londres que viveu a entrada na idade adulta. Actualmente, reside na Alemanha Valério Romão

A edição portuguesa de Cartas contra o Firmamento surge menos de um ano depois da original (Letters Against the Firmament, Enitharmon, 2015), numa antologia organizada e traduzida pelo poeta Miguel Cardoso. Esta é uma poesia política, afirme-se sem qualquer modalização ou atenuante. É-o na assunção de um real repetidamente registado e apostrofado – “Isto aconteceu mesmo” é um dos seus motes –, no empenho de uma denúncia clara e, sobretudo, na revolta irreprimida, de feição libertária e anarquista – “a violência policial é o conteúdo de toda a arte oficialmente sancionada”.

O trajecto biográfico de Sean Bonney (1969) percorre uma linha que parece rasgar o mapa do território inglês. Nascido no Sul, em Brighton, cresceu no Norte de Inglaterra, na cidade de Hull, mas foi em Londres que viveu a sua entrada na idade adulta. Afirma ser essa a cidade que mais facilmente chamaria sua. Actualmente, Bonney reside na Alemanha, onde trabalha como investigador da Universidade Livre de Berlim. Veio a Lisboa integrado no Festival Silêncio!, em cujo âmbito apresentou uma antologia de um dos seus mais recentes livros, Cartas contra o Firmamento (Douda Correria, trad. Miguel Cardoso).

Sean Bonney refere-se com relutância, e não pouca ironia, a Hull, cidade para sempre associada a Philip Larkin, um poeta que se situa nos seus antípodas. O autor que fez de certo conservadorismo social e poético o seu território não podia ser mais estranho a Bonney, que se define como poeta político, defende a acção directa e conheceu de perto a violência das manifestações de rua.

A cada território poético, as suas linhas divisórias e os seus clãs. Na poesia britânica e irlandesa, a principal fonte de clivagem reside na existência de duas grandes facções claramente opostas. De um lado, o chamado mainstream, ou corrente mais convencional, de carácter discursivo, associada a certo tradicionalismo poético e (sobretudo) à tradição britânica; do outro, a poesia muitas vezes conhecida como inovadora, de vanguarda, ou de matriz modernista, fragmentária e elíptica, de raiz europeia e mais aberta a influências internacionais. Ken Edwards, crítico e, também ele, poeta enquadrável nesta última facção, falou (num ensaio fundamental, chamado “As Duas Poesias”) de uma “tradição paralela”. É também claramente nela que se insere Sean Bonney. Em particular, na sua deriva mais marcadamente política, porque ela não prevalece, como é natural, em todos os poetas associáveis a esta corrente. Uma das preocupações principais da poesia de Bonney é, na expressão do crítico e poeta David Kennedy, “a paisagem psicológica que a política produz”. E o próprio Sean Bonney afirmou: “Reclama-se em relação à poesia política – que não vale a pena escrevê-la, porque ela não muda nada –, o que é ridículo. Não é uma questão de saber se a poesia, por si própria, pode mudar alguma coisa, que obviamente não pode, mas antes em que é que a poesia especificamente pode contribuir para projectos radicais e avanços teóricos já existentes.” (Toward. Some. Air., org. Fred Wah, Amy De’ath, Banff Centre Press, 2015).

Como descreveria a actual cena poética britânica (passe o chavão)?
Não há realmente uma cena, mas várias cenas. Historicamente, desde, bem, provavelmente, os anos 50, tem havido uma divisão total entre pessoas que se vêem a si mesmas na tradição modernista, e pessoas que vieram de uma espécie de posição do tipo Philip Larkin, a qual, na verdade, rejeitava o internacionalismo e o modernismo na poesia. Por outro lado, com poetas mais novos, acho que isso está mais ou menos a mudar. Começam a falar mais entre si. Não há tanto uma divisão. Para pessoas da minha idade, ainda parece que sim. Quer dizer, eu ouço falar de poetas como Don Paterson ou Simon Armitage… Não é que desgoste deles, nem nada disso, mas considero que trabalham numa área que não tem absolutamente nada a ver com a minha. Há uma linha, que se costuma chamar… avant-garde. Não é um termo que eu usasse, propriamente, porque é uma expressão historicizada, e, para mim, isso referir-se-ia à poesia experimental europeia dos começos do século XX, mas as pessoas ainda o usam. Não acho que seja exacto. E acho que não serva para grande coisa.

Há poetas mais novos em relação aos quais me sinto próximo. Pessoas como Lucy Beynon e Lisa Jeschke. Sobretudo, pessoas que são também activistas políticas. Pessoas que levam certas práticas de uma arte radical muito a sério. E que levam a radicalidade política muito a sério, também, que não vêem uma fronteira entre essas coisas. Essa é a área pela qual eu me interesso e de que me sinto parte. Mas uma vez que já não vivo na Grã-Bretanha, já não me sinto parte de nada disso.

Isso não é verdade, pois não?
Bem, não sei… Quer dizer, tenho amigos que também são poetas. Tendo a ser amigo de pessoas de cuja poesia gosto. Mas não estou seguro de que pudesse localizar um movimento. Se me sinto parte de uma espécie de… impulso literário, neste momento, é uma área em que a poesia, a teoria e a performance como se sobrepõem. Há duas antologias que saíram há pouco. Há uma chamada Anguish Language (Archive Books, 2015, org. John Cunningham, Anthony Iles, Marina Vishmidt, Mira Mattar), que foi publicada em Berlim, embora seja composta sobretudo por escritores ingleses, e há uma chamada Bad Feelings (Book Works, 2015, org. Louis Hartnoll, Lucy Killoran, Robyn Monogue, Sophie Carapetian), que foi criada por uma organização chamada Arts Against Cuts – um colectivo de artistas politicamente empenhados que se organizaram em torno dos protestos políticos de há cerca de cinco anos. Além de poetas, como eu, há também pensadores políticos, teorias de esquerda, além de outro tipo de escrita experimental a que não se chamaria, necessariamente, poesia. Mas o que os une é o compromisso político. E eu sinto-me próximo disso. Sinto, definitivamente, que o trabalho que faço é poesia, mas interessa-me falar não só para uma cena poética, mas importa-me dar um contributo para uma conversa mais ampla. Alguma dela dá-se no mundo das artes, outra, no activismo. Interessam-me essas sobreposições.

Houve um lançamento dessa antologia [Anguish Language] no ano passado e, na verdade, há uma para a semana. Eu estava para ir ler nessa sessão, mas, de momento, não vou regressar ao Reino Unido.

Uma decisão consciente?
Sim, sim. Sabe como é… o brexit…

Pois. Era uma das minhas próximas perguntas. Quer falar disso?
Sim, eu falo. Não sei muito bem o que dizer, mas… Bem, eu sou um internacionalista. Sempre fui. Sempre tive uma crença fundamental na abertura de fronteiras e sempre acreditei que as pessoas deviam poder viver onde quisessem. Consigo entender os argumentos da esquerda a favor do brexit, em relação à UE. A UE é uma instituição, é o que ela é, e pode ter havido alturas em que usar esse argumento teria feito sentido; mas numa Grã-Bretanha em que não há uma esquerda significativa, em que a extrema-direita está em movimento ascendente, e em que é ela que vai ganhar com isto, então é um desastre. Quer dizer, a Grã-Bretanha… A Grã-Bretanha já é um sitiozinho arrogante, cheio da sua própria importância, sem ter realmente… Quer dizer, quando é que a Grã-Bretanha produziu alguma coisa de realmente bom? O David Bowie, talvez, e mesmo aí… É um desastre. E a única coisa que eu ouço dos meus amigos, na Grã-Bretanha, é, claro, o que todos sabemos, a ascensão da violência na extrema-direita, a xenofobia. Claro que, para mim, eu também tenho de pensar nisto em termos pessoais, não é? Estou a tentar ganhar a vida em Berlim, a minha mulher [a poeta Frances Kruk] é polaca e, neste momento, vive no Canadá, mas isso é outra história, e nós ainda estamos juntos. Portanto, se eu, por algum mootivo, um dia decidisse mudar-me para o Reino Unido, será que ela podia ir ter comigo? São perguntas. Por isso, oponho-me num plano abstracto, político, acho que é um erro absurdo, em termos de geopolítica; mas isto também me afecta a um nível muito pessoal. Disse isto a alguém no Facebook: «Eu sei que sou só eu, e que há quem esteja muito pior, mas sinto que a minha vida ficou desfeita em pedaços.» É perturbante. Na semana passada, eu e uns quantos amigos britânicos estávamos a assistir aos resultados em Berlim… Nós suspeitávamos que ia acontecer, mas, ao mesmo tempo, não acreditávamos que o fosse. E quando finalmente aconteceu, íamos a caminhar pelas ruas e pareceu-nos que a única reacção emocional semelhante a isto era a morte de alguém conhecido. Parecia que estávamos a chorar a morte de alguém. Eu sei que parece melodramático, mas, neste momento, sinto que já não tenho país. Se me fosse possível escolher entre a minha cidadania europeia e a britânica, optava pela europeia. Mesmo que isso significasse que nunca mais podia entrar no Reino Unido. Considero-me europeu, e acho que isto é uma catástrofe. Mesmo da perspectiva de um capitalista, isto é claramente suicídio económico. É absurdo.

Foto
Miguel Cardoso

Agora querem inverter o processo…
Sim, pois… Quer dizer, eles ainda não activaram o artigo 50. Pode não acontecer. É tão complicado, o que eles têm de fazer, que pode nem acontecer. Só que, entretanto, um fascista odioso como o Nigel Farage está em todos os jornais, e estão a levá-lo a sério. Quer dizer, ele não é só um fascista, é um cretino. É abjecto. À frente de jornais como The Sun estão conhecidos dirigentes de associações fascistas, como se as opiniões deles fossem, de alguma maneira, razoáveis… O fascismo – e esta não é uma palavra que eu use de ânimo leve, eles são conhecidos como líderes de associações de extrema-direita – …, o fascismo foi completamente legitimado pelo que aconteceu no Reino Unido na semana passada. Quando se pensa que, há cinco anos, tínhamos um movimento de protesto muito activo, havia manifestações de estudantes, fizeram-se as maiores marchas da esquerda nesta geração. Falou-se, falou-se, mas tudo isso… desapareceu.

O que acha que aconteceu?
Em primeiro lugar… bem, eles venceram. Assustaram muita gente com as medidas draconianas que tomaram. Pessoas mandadas para a prisão durante cinco anos só por dizerem merdas estúpidas no Facebook. Muitos deles afastaram-se dos movimentos de protesto porque tiveram medo. O que aconteceu foi que nos derrotaram. A viragem à direita foi outra coisa. Não sei. Não vivo na Grã-Bretanha, e não posso dizer que entenda o que se passa lá. Se lá vivesse, talvez… anda-se na rua e tem-se uma noção do ambiente que se vive. Neste momento, estou de longe a olhar para lá. Com o mesmo horror de toda a gente. Mas é diferente, porque é íntimo. Porque eu sou de lá. Nunca fui um patriota, fiquei muito satisfeito ao abandonar a Grã-Bretanha, mas ainda sei de onde sou. Ainda tenho algum afecto por aquilo. É muito difícil falar disto. Na verdade, estou muito incomodado com isto tudo.

Houve uma iniciativa conjunta de alguns poetas [britânicos e norte-americanos] que se juntaram para escrever sobre o brexit, uma publicação chamada June 2016…
Ah, sim, organizada pelo Timothy Thornton [e Verity Spott]. Ainda não li. Dei uma vista de olhos… Fui convidado a participar, mas não consegui. Quer dizer, eu vou escrever sobre isto, mas, neste momento, não sei como o fazer. E não queria simplesmente disparar umas coisas imediatas. É estranho. Desde que me mudei para Berlim – eu brincava com as pessoas e dizia que ia para Berlim e que me ia deixar destas coisas da política –, escrevi uma série de poemas com os quais estou satisfeito, mas tendem a ser poemas sobre problemas com as drogas, sobre isto e sobre aquilo, e são muito mais pessoais. Obviamente, com isto a acontecer, sinto-me politicamente empenhado outra vez, mas não consigo definir a forma de abordar o problema. Isto é, seria muito fácil escrever poemas do mesmo modo como escrevi nas Cartas contra o Firmamento. Mas não quero, realmente, fazer isso. Ia parecer estranho regressar a um modo anterior, em que eu estava a trabalhar. Acho que isto exige outra coisa. Há alguma coisa em preparação, que eu ando a remoer, mas ainda não está pronto. Talvez por eu estar a fazê-lo à distância. Se calhar, se eu estivesse na Grã-Bretanha, como a maior parte das pessoas que participaram nessa publicação, talvez me sentisse capaz de escrever uma reacção rápida. Mas não estava, por isso não o fiz. Estava-me a passar. Por não saber o que me ia acontecer a mim, o que ia acontecer à Frances, e os poemas que escrevi surgiram nesta espécie de modo melancólico. E a melancolia não é uma reacção suficiente para o que é necessário. Portanto, são poemas que vão ficar na gaveta…

Por agora…
Sim, por agora. Se eu for contribuir com um conjunto de poemas sobre o brexit, não é esse o contributo que quero dar. Portanto, fiquei contente por terem publicado aquilo, mas não me senti capaz de participar.

Será que podia falar um pouco do trabalho que fez com a obra de Baudelaire?
Isso foi divertido. São uma espécie de poemas concretistas. Foram feitos numa pequena máquina de escrever antiga, uma Hermes. Muita gente não acreditou em mim. Pensavam que eu tinha um software qualquer para fazer aquilo. Mas não. Enfiava o papel e depois repetia e escrevia outra vez. Considerei-os traduções bastante fiéis de Baudelaire. Meti-me em problemas com alguns poetas conceptuais, que pensaram que eu estava a gozar com eles. Mas eu queria era falar de sexo e drogas, gosto de Baudelaire… Começaram como poemas de amor. Tinha começado a andar com a minha companheira, Frances Kruk, que também é poeta. Então, ela ia dormir, e eu, que não durmo, propriamente, ficava ali na cozinha, com uma garrafa de vodka, e fazia aquilo, que eram uns presentes para ela. Eram poemas de amor, em termos da estratégia estética. Eu estava associado ao Writers Forum do Bob Cobbing e a essa área da poesia concreta. Mas já na altura era muito crítico em relação a esse tipo de poesia. O que me interessava era um certo sentido, uma semilegibilidade que ia ganhando terreno. Não era aquela erradicação do sentido da poesia concreta; era uma espécie de dar a volta a isso, o sentido a emergir por entre isso. Quando muito, em termos da minha… trajectória como poeta, ou seja o que for, era o meu adeus a esse tipo de coisas típicas das vanguardas. Uma mudança. Comecei a interessar-me muito pela comunicação e em saber de que modo a poesia pode comunicar. Foi mais ou menos na altura que comecei a pensar em escrever poemas mais explicitamente políticos.

Ainda gosto deles, desses poemas. Foi um dos período mais felizes da minha escrita. Sentar-me à máquina de escrever. Agora já não, mas, quando os computadores se começaram a tornar cada vez mais comuns, as pessoas falavam sempre da velocidade do computador. Por isso, com a máquina de escrever, havia uma espécie de calma meditativa e estranha, e ao mesmo tempo uma concentração que era necessária. Obviamente, os poemas estão cheios de riscos e de rasuras, mas eu olhava para aquilo como um músico a improvisar. Comete-se um erro na folha de papel e não se vai simplesmente apagar o ficheiro, porque já se tem o trabalho meio feito, e há uns pedaços de que se gosta. Por isso, tem de se fazer alguma coisa com esse erro. Há um processo de grande improvisação. A maior parte daqueles textos demoraram 10 minutos a serem escritos. Como escritor, passa-se períodos estranhos em que, por exemplo, durante dois meses se escreve sem parar e se produz imensa coisa; e depois pode haver um ano em que uma pessoa se contenta se conseguir escrever a porcaria de um dístico rimado. E este foi um daqueles períodos em que eu escrevia todas as noites. Também pintei um conjunto de quadros que os acompanhavam. Iam ser publicados por um gajo de Cambridge… que ainda não os publicou…

Voltando ao seu livro, Cartas contra o Firmamento, com a actual situação política, «o sequestro e assassinato de David Cameron» [título de um dos poemas do livro] já não tem utilidade? Ou mantém-se?
Não, é terrivelmente útil. Já não lia isso há muito tempo e, depois, li-o num festival de poesia em Berlim, há umas semanas. Eles adoraram. Por isso, mantém-se.

Uma das palavras que mais se repetem, ao longo do livro é “motim”…
Sim, os poemas iniciais do livro foram escritos na altura dos motins em Inglaterra, em Agosto de 2011, e em resposta a eles. Neste momento, não me posso chamar um activista polítco, mas, na altura, definitivamente, era-o. Andava nas ruas quando os motins decorreram. O primeiro poema do livro, escrevi-o imediatamente antes do motim.

A razão pela qual comecei a escrever estas cartas, em vez de poemas, foi o facto de sentir necessidade de escrever, mas não conseguir escrever um poema-poema sobre os motins. Nem sequer sabia se isso serviria para alguma coisa. E por isso acabei por escrever estas cartas semificcionais, dirigidas a um poeta académico, que pode, ou não, ser uma pessoa real, sobre não poder escrever. E acho que me me aproximei bastante do modo como me sentia em relação àquilo.

Uma espécie de Carta de Lorde Chandos. Escrever sobre a incapacidade de escrever…
Exacto. E acaba por ser a espinha dorsal do livro. À medida que ia escrevendo, não conseguia perceber o que as cartas eram. Algumas eram como ensaios, outras são poemas em prosa, outras, ainda, são como contos. A certa altura, a fronteira entre mim e o narrador torna-se muito, muito ténue, e foi por isso que parei. Quer dizer, foi um pouco mais complicado do que isso…

No Outono de 2010, houve uma série de manifestações de estudantes, e o que começou como manifestação acabou connosco a desfazer a sede do Partido Conservador. Foi hilariante. E no fim uns quantos manifestantes rodearam um carro onde seguiam o Carlos e a Camila, gritando: «Cortem-lhes a cabeça!» [um episódio recriado em Cartas contra o Firmamento]. E isto continuou. Mesmo que isto tenha acontecido há pouco tempo, custa a acreditar. Havia edifícios convertidos em centros alternativos de educação e politização, onde eu cheguei a ir fazer leituras. Enormes manifestações e motins, que culminaram nos motins de Agosto de 2011. Foi uma altura em que se deu o movimento Ocupar, nos EUA, e em que parecia haver um ressurgimento internacional de uma nova força política de esquerda. E nós, no Reino Unido, sentíamos que o que estávamos a fazer era parte de tudo isso. E depois parou, por motivos vários. Estes poemas vieram daí. Achei que eles eram um contributo para o conteúdo intelectual daquela luta. Comecei a fazer leituras fora da cena da poesia, as minhas coisas começaram a sair em revistas políticas, e não tanto em publicações de poesia. Esse tipo de expansão foi muito interessante. E eu acho mesmo que os motins são importantes. É como aquela frase famosa do William S. Burroughs: “Devia haver mais motins e mais violência. Os jovens do Ocidente foram enganados, defraudados e traídos. O melhor que têm a fazer é virar tudo do avesso antes que sejam destruídos numa guerra nuclear.” Talvez a guerra nuclear não seja a questão, agora, mas vai dar ao mesmo.

Sugerir correcção
Comentar