Um clique, uma viagem no tempo: os cartazes de Paredes de Coura

1993
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1993

É como entrar numa máquina do tempo e ver uma vida desfilar à frente dos nossos olhos. Tudo começou em 1993, ano em que a Praia Fluvial do Taboão viu nascer o Festival de Música Moderna Portuguesa, que hoje tem o nome da vila minhota que o acolhe. Entre os "headliners" estavam os Boucabaca de Vítor Paulo Pereira, um dos sócios fundadores da Ritmos (que organiza o festival), e que hoje está à frente da autarquia courense. O universo funciona assim, o que antes existia depressa deixa de estar lá, mas no fim de contas tudo está ligado. Paredes de Coura, enquanto nome do festival, nasceria como se vê ao quarto ano, a primeira edição com patrocinador oficial e sem entrada grátis, mas uma pechincha ainda assim: mil escudos para ver, entre outros, Raincoats, Lulu Blind, Primitive Reason, Mão Morta.

 

Fomos ao site do Vodafone Paredes de Coura espreitar o passado e decidimos viajar no tempo através dos cartazes do festival (e de um bilhete, o de 2001). Por cada clique, há um ano que passa, uma nova surpresa, uma história que se conta. A começar pela diversidade de bandas que lá vimos: só para enumerar uma ínfima parte, Suede, Mr. Bungle, PJ Harvey, Bauhaus, Sex Pistols, Nine Inch Nails, Queens of the Stone Age, Sonic Youth, Pulp, uns, na altura pequeninos, Coldplay e outros, igualmente desconhecidos, Arcade Fire, que em 2005 podem ter protagonizado o concerto da década. E a acabar na própria imagem do festival, que tantas caras teve ao longo dos anos. "Éramos quase fundamentalistas em relação ao design", conta ao P3 o director João Carvalho, recordando a infância de Paredes de Coura. "Lembro-me, por exemplo, de 1999, do famoso poster com o girassol. Nem imaginas a quantidade de horas que passamos a discutir", admite, tal era a "força de vontade de controlar a imagem". E mais uma confissão: "Devemos ter assustado alguns patrocinadores." Dois anos depois, Coura teria "um dos melhores cartazes do mundo" feitos para festivais de música: o de 2011, da autoria do designer André Cruz. "É uma obra de arte."

 

Depois, desde que a Vodafone entrou na equação, em 2013, a imagem tem-se mantido semelhante. Hoje, a organização continua a "controlá-la", mas "com mais cedências" ("hoje para termos bons cartazes é preciso ter bons patrocinadores"). No fim de contas, o poster é um "apontamento", principalmente quando comparado com as duas áreas de que não abrem mão: as "infra-estruturas no terreno" e a "essência musical": "O cartaz é nosso". As bandas lá dentro, isto é. Este ano, a meta foi a mesma de todos os outros que estão lá atrás: "Fazer o melhor cartaz sempre". "Mas isto", metaforiza João Carvalho, "é como o vinho: algumas vezes temos tudo o que queremos (o que nunca aconteceu), outras há mais dificuldade em fechar, outras até se compra vinho mais caro do que nos anos anteriores". Com um orçamento de 3 milhões e 300 mil euros ("subiu ligeiramente na contratação"), a 24.ª edição tem cabeças de cartaz que "qualquer festival do mundo gostava de ter", nomeadamente os LCD Soundsystem, uma "banda gigante que estava a ser pretendida" em todo o lado: "Não foram a todos os festivais, foram criteriosos".

 

No ano passado, o festival esgotou pela primeira vez em toda a sua história; como se responde a tal, um ano depois? A venda de bilhetes está semelhante à de 2015, ainda que "ligeiramente acima"; de qualquer modo, não é essa a meta do Vodafone Paredes de Coura, garante o director: "No nosso país criou-se a ideia de que esgotar é sinónimo de qualidade, mas não é um campeonato que procuremos." Haverá diferenças, claro. Dentro do recinto, foram desenhadas mais zonas de descanso e criadas condições para receber mais duas mil pessoas, ainda que a lotação seja a mesma: 23 mil por dia. Por pura "comodidade".

 

Também no campismo há mudanças: os chuveiros mudaram de sítio e triplicaram em número, há mais casas de banho e uma zona para higiene básica. E, "mais do que nunca", a "Praia Fluvial do Taboão é sagrada": será limitada a entrada de patrocinadores e, todos os dias, o Palco Jazz na Relva recebe um artista e um DJ (bem "chill out", garante o director), para além das sessões de leitura. "É um local para as pessoas poderem descansar." E, já agora, quais serão as surpresas da programação deste ano? Whitney e Algiers, aposta João Carvalho. Está apontado. AR

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