Ténis português está no Rio de Janeiro em força

Serão dois os tenistas nacionais a competir no Rio 2016, ambos na variante singulares, um feito inédito para o país. A ambição será a de chegar o mais longe possível.

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João Sousa é um dos tenistas portugueses no Rio de Janeiro VINCENT KESSLER/Reuters

O ténis faz parte dos Jogos Olímpicos desde a primeira edição, em 1896, embora com um interregno entre 1924 e 1988, quando voltou a ser uma modalidade permanente. Mas esta será a primeira vez em que Portugal terá dois representantes no quadro de singulares, confirmando o melhor momento de sempre do ténis luso, traduzido pela presença de João Sousa e Gastão Elias entre os 70 melhores do mundo.

O primeiro tenista português a competir nos Jogos Olímpicos foi Rodrigo Castro Pereira, em 1924, um ano antes ainda da fundação da Federação Portuguesa de Lawn-Tennis. Castro Pereira perderia na ronda inaugural e não competiu em pares porque o seu parceiro, António Casanova, nem sequer viajou devido a um problema de saúde. E só 72 anos depois se voltou a ver um tenista português no evento olímpico.

Marco Seruca ainda tentou qualificar-se para os Jogos Olímpicos de 1988, mas perdeu na fase de qualificação, realizada em Budapeste. Quatro anos, depois em Barcelona, Bernardo Mota teve a sorte do seu lado. Eliminado (6-3, 2-6 e 3-6) pelo romeno Andrei Pavel no qualifying realizado em Lillehammer, em Maio – tal como Emanuel Couto e Vasco Gonçalves –, Mota acabou por ser repescado para o quadro principal, onde teve de enfrentar de entrada Goran Ivanisevic, finalista de Wimbledon três semanas antes e número quatro do ranking – ou seja, 192 lugares à frente do português de 21 anos. No encontro ainda à melhor de cinco sets, Ivanisevic controlou os sets iniciais, mas um dia de pouco acerto no serviço (somente 12 ases) permitiu a recuperação de Mota, que só cederia no set decisivo: 6-2, 6-2, 6-7 (5/7), 4-6 e 6-3.

Mota e Couto eliminaram um par russo nessa qualificação de Lillehammer – que serviu de promoção ao futuro palco dos Jogos de Inverno –, mas tiveram azar à chegada a Barcelona, pois os primeiros adversários foram os cotados franceses Guy Forget e Henri Leconte, detentores da Taça Davis, não conseguindo mais que vencer cinco jogos: 6-1, 6-3 e 6-1.

Mota e Couto voltariam a marcar presença nos Jogos de Atlanta, novamente em pares, onde voltaram a ser eliminados por dois especialistas, Mark Knowles e Roger Smith, em dois tie-breaks.

Em 2000, Mota assinou a terceira presença olímpica, ao jogar em Sydney ao lado de Nuno Marques. Mas foi novamente uma dupla das Bahamas (Knowles associado a Mark Merklein), a não deixar a dupla lusa passar a ronda inicial, impondo-se por 6-7 (7/9), 6-4 e 7-5.

No sector feminino, houve uma única oportunidade de Portugal estar representado nos Jogos Olímpicos, quando a qualificação europeia de 1992 se realizou em Lisboa, mas nem Sofia Prazeres (ainda ganhou um encontro), Tânia Couto, Inês Drummond e Joana Pedroso (em pares, com Prazeres) conseguiram aproveitar.

Nos Jogos do Rio, vão estar Sousa (actual 36.º) e Elias (64.º), cujo ranking permitiu-lhes entrar directamente neste evento único, sob alçada da Federação Internacional de Ténis (ITF). “Normalmente, jogamos sempre pelo nosso país, mas no caso da Taça Davis e Jogos Olímpicos é sempre diferente. No meu caso sinto que tenho mais apoio ainda do povo português e estaremos a competir somente por medalha e não por dinheiro ou pontos. Eu e o João sabemos que é muito difícil, mas porque não sonhar um pouco”, explicou Elias, que vai tentar igualmente aproveitar para ver outras modalidades ao vivo.

O torneio olímpico vai ser disputado no moderno complexo erguido de raiz no Rio de Janeiro, com 16 hardcourts, 10 dos quais aptos para encontros oficiais. O principal, com capacidade para 10 mil lugares, foi baptizado com o nome de Maria Esther Bueno, a campeã brasileira detentora de 19 títulos do Grand Slam (sete de singulares e 12 de pares) nas décadas de 50 e 60. Há ainda mais dois show courts, com capacidade para 5 mil e 3 mil espectadores.

Os quadros de singulares têm 64 jogadores (dos quais seis por indicação da ITF e dois convidados por uma comissão tripartida) e os sorteios serão realizados no dia 4 de Agosto.

Cada nação pode apresentar um máximo de quatro representantes para os singulares, ou de seis, se incluir a variante de pares (em que o máximo é de duas duplas nacionais). Para além da elegibilidade através do ranking, os tenistas também são obrigados a terem boas relações com a respectiva federação e cumprirem um mínimo de presenças na Taça Davis ou Fed Cup.

O britânico Andy Murray e a norte-americana Serena Williams defendem a conquista da medalha de ouro nos Jogos de Londres. Apesar da ausência de uma dúzia de tenistas do “top 30” — incluindo Roger Federer (3.º), Milos Raonic (7.º), Tomas Berdych (8.º) e Dominic Thiem (9.º) —, devido à falta de incentivos monetários e de pontos para o ranking (e também por causa da ameaça do vírus Zika) ou, no caso de Federer, devido a lesão, Murray vai ter concorrência de peso. Novak Djokovic (medalha de bronze em Pequim) vai querer estender o domínio no ténis masculino e Rafael Nadal (porta-estandarte da delegação espanhola) aposta em repetir o triunfo nos Jogos de Pequim, enquanto procura a melhor forma, depois de dois meses lesionado no pulso.

No torneio feminino, Serena Williams, actual número um do ranking, vem de conquistar o 22.º título do Grand Slam, em Wimbledon, onde há quatro anos conquistou a única medalha de ouro individual. Dadas as ausências de Simona Halep (5.ª), Victoria Azarenka (7.ª), grávida, Karolina Pliskova (17.ª) e Maria Sharapova (suspensa por uso de doping), as principais rivais de Serena serão Angelique Kerber, Garbiñe Muguruza, Agnieszka Radwanska e a irmã Venus, medalha de ouro em 2000.

Interessante vão ser igualmente as variantes de pares, cujos quadros serão formados por 32 duplas (incluindo oito indicadas pela ITF). Os irmãos norte-americanos Bob/Mike Bryan Williams defendem o título, mas há que contar com a melhor dupla do ranking, Pierre-Hugues Herbert/Nicolas Mahut, os especialistas Marcelo Melo/Bruno Soares que jogam em casa, Andy Murray/Jamie Murray, detentores da Taça Davis, mas também Novak Djokovic/Nenad Zimonjic e Marc Lopez/Rafael Nadal.

Venus/Serena são as favoritas à conquista de uma quarta medalha de ouro em cinco edições nesta variante. A actual número um, Martina Hingis faz equipa com a jovem suíça Belinda Bencic e a indiana Sania Mirza, número dois, com a desconhecida Prarthana Thombare, pelo que as norte-americanas terão maior concorrência nas francesas Caroline Garcia/Kristina Mladenovic, nas chinesas de Taipé, Chan Hao-Ching/Chan Yung-Jan e nas checas Andrea Hlavackova/Lucie Hradecka.

As 16 duplas que irão competir em pares mistos, só serão determinadas perto do início do torneio e serão compostas pelos tenistas presentes nas outras provas e nomeadas pelo respectivo comité olímpico até 9 de Agosto, com um máximo de duas duplas por país.

Atletas

João Sousa (estreia), singulares

Gastão Elias (estreia), singulares

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