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Algarve: destruir para dar lugar ao turismo

©John Gallo
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Na Ilha da Culatra —­ ilha-­barreira da Ria Formosa conhecida pela sua exuberante beleza natural e pelo já antigo núcleo piscatório —­ existem casas particulares de "segunda habitação" em risco de expropriação e demolição. A "Polis Litoral Ria Formosa", uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos a quem José Sócrates atribuíu, em 2008, o poder de estabelecer regras vinculativas para a requalificação e reordenamento do território, é quem interpõe a acção que conduzirá a mudanças radicais na ordem dos centros habitacionais de Farol e Hangares. Através de recurso aos tribunais, alguns dos proprietários têm conseguido adiar a tomada de posse das construções que a "Polis" considera, unilateralmente, ilegais, mas temem não conseguir fazer frente à vantagem financeira e política da sociedade anónima.

O fotógrafo John Gallo conviveu com os habitantes da ilha durante um mês, a pedido do jornal "The Guardian", e garante que a revolta é o sentimento que impera no seio das comunidades. "A Polis está sobrepor o seu poder financeiro e soberania aos direitos mais básicos das pessoas que lá estão", opinou John Gallo em entrevista ao P3. "Diz estar a intervir por questões ecológicas, ambientais, mas em muitos casos, após a demolição das habitações, não tem o cuidado de remover o entulho ou de tratar de evitar que o esgoto das casas vizinhas se mantenha a céu aberto e a escoar directamente na Ria. Não existe um cuidado ambiental." "Não um que justifique as acções que levam a cabo", sublinha o fotógrafo. "Os habitantes, em geral, concordam com a necessidade de reordenamento de território, mas temem que o verdadeiro objectivo da Polis não seja o que anuncia publicamente." Acreditam, sim, que a libertação de terrenos tem como objectivo a sua rentabilização através da permissão de construção de empreendimentos turísticos.

"A ilha da Culatra é um paraíso. Tem cerca de oito quilómetros de extensão, as praias são paradisíacas, é um local muito recatado e que não tem movimento automóvel. Os poucos residentes suspeitam que toda a acção da sociedade anónima vai no sentido da criação de "resorts" de luxo." "Numa das pontas da outra ilha, da Ilha de Faro, existe já um restaurante para clientes muito exclusivos que explora parte da praia e que assegura o transporte num barco privado", exemplifica. A incoerência dos critérios criados pela "Polis" para determinar quais os alvos das demolições são também um dos alicerces das suspeitas dos habitantes. "Não existe coerência nos critérios", refere o fotógrafo. "Metade do Farol vai abaixo. Hangares será totalmente demolida. Ninguém tocará em Culatra [zona urbana da Ilha da Culatra]. Não se aplica nenhuma regra que seja igual para todos os lugares." John Gallo acrescenta que está prevista uma nova fase de demolições para Setembro de 2016. "A Home With a View" é o nome desta série fotográfica. Outras do mesmo autor, "Falling From the Summit" e "Pilgrims - Chapter One: Walking to Fatima, podem ser vistas no P3.

Os 8km de extensão da Ilha da Culatra podem estar na mira de grandes 'resorts' e cadeias hoteleiras
Os 8km de extensão da Ilha da Culatra podem estar na mira de grandes 'resorts' e cadeias hoteleiras ©John Gallo
As viagens para a Ilha fazem-se a partir de Olhão e o percurso pode demorar cerca de 45 minutos
As viagens para a Ilha fazem-se a partir de Olhão e o percurso pode demorar cerca de 45 minutos ©John Gallo
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Exploração de ostras em viveiro por empresa francesa prejudica espécie de amêijoa autóctone
Exploração de ostras em viveiro por empresa francesa prejudica espécie de amêijoa autóctone ©John Gallo
O camaleão é uma espécie protegida e a protecção do seu habitat tem impedido as demolições
O camaleão é uma espécie protegida e a protecção do seu habitat tem impedido as demolições ©John Gallo
Os edifícios estatais são, de longe, os que estão em pior estado de conservação na ilha
Os edifícios estatais são, de longe, os que estão em pior estado de conservação na ilha ©John Gallo
Culatra foi legalizada há 3 meses. A sinalética oficial está presente há muito mais tempo
Culatra foi legalizada há 3 meses. A sinalética oficial está presente há muito mais tempo ©John Gallo
Rute transporta pessoas através das estradas acidentadas da Ilha da Culatra
Lurdes tem 88 anos e é a mais velha de Farol.
O local onde os homens da ilha se juntam para se socializar e beber
A primeira casa de Hangares presta tributo ao primeiro residente, Manuel Lobisomem.
Os residentes de Farol reconhecem e agradecem o apoio dos meios de comunicação
Um pôr-do-sol em Farol