O “lado desarmado” de Siza Vieira

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Em 2014, na “viagem histórica” pela Ásia, os clientes de Álvaro Siza Vieira esperavam-no sempre com duas coisas: papel e caneta. Sabendo do apreço do arquitecto pelos esboços, “estavam sempre à espera que ele fizesse um desenho”, recorda ao P3 o fotógrafo Fernando Guerra, que acompanhou o Pritzker nesse périplo, ao lado do eterno cúmplice Carlos Castanheira. Ora, numa dessas visitas, em Taiwan, não só ansiavam por um desenho, como desejavam que o arquitecto pintasse uma parede: “E ele, como é uma delícia, disse ok.” De repente, de todo o lado surgem lápis, marcadores, um escadote, por fim, em que Siza, então do alto dos seus 81 anos, fez nascer um braço, enquanto lhe amparavam as pernas. Quando desceu, Fernando, de câmara em punho, perguntou: “Então, que boneco é este?” Siza interpretou, o fotógrafo clicou e o momento ficou para a história. As duas primeiras imagens desta galeria narram precisamente esses disparos e, tal como todas as outras que compõem a exposição “Viajar com Siza. Diário de uma rotina — take one”, mostram o arquitecto para além dos edifícios. “Uma coisa é fotografar a obra, outra coisa é viajar com ele, apanhar a rotina da viagem, de partilha, do cansaço”, relata o fotógrafo de arquitectura que em 2009 começou a acompanhar Siza Vieira nestas travessias. Assim, vemo-lo desenhar, dormitar, olhar, fumar, como na última imagem desta galeria, o primeiro retrato que fez do mestre, aquela que para o seu autor será sempre a fotografia “definitiva” do arquitecto. Alguns momentos foram captados na tal viagem à Ásia, que o “guardião de memórias” Fernando Guerra queria eternizar em livro. Uma ideia que, para já, está em “stand-by”, evoluindo então para esta exposição com memórias de todas as viagens. Até sexta-feira, 1 de Julho, é possível ver “o lado desarmado de Siza” no departamento de Arquitectura e Urbanismo do ISCTE, em Lisboa, no âmbito do curso “Construir no Sul”, e de uma forma invulgarmente “próxima”: as 120 fotografias estão dispostas em mesas, sem protecção, com anotações das datas e locais. Daqui partem para onde as quiserem — está confirmada, para já, uma passagem pelo Líbano. A mostra não há-de ser sempre igual. Não só porque Fernando Guerra tem no seu arquivo mais de mil imagens “com interesse” do arquitecto, mas também porque, como não se cansa de sublinhar, esta não é uma “exposição póstuma”: “Siza está vivo e eu também”. É o “take one”, portanto. Para o ano, muitas destas imagens também poderão integrar a mostra que o fotógrafo vai inaugurar na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém. Serão mais de dois mil metros quadrados de espaço para ocupar, ainda há umas quantas incógnitas, mas o fotógrafo já tem uma certeza: “Eu sei que o Siza é a espinha da exposição”. AR