Eles são “hipsters” muçulmanos. Eles são “mipsterz”
Como se chama um "hipster" que é muçulmano? Um "mipster", "mipsterz" no plural. Sim, são uma "comunidade", uma "ideia", um "colectivo", uma "cultura", uma "interpretação" — palavras de Abbas Rattani, o co-criador, que em entrevista à CNN no ano passado explicava o que significava o termo. "É irónico", sublinha, preparando o tereno para a "punchline": afinal, nunca "nenhum 'hipster' se identifica como 'hipster'". Tudo começou em 2012 como tudo sempre acontece: entre amigos. Muçulmanos, a viver em Nova Iorque, começaram, por brincadeira, a apelidarem-se de hipsters... muçulmanos. Com o tempo criaram um Tumblr, um Facebook e, por volta de 2013, ganharam alguma atenção internacional (e levantaram uma acesa polémica) com um vídeo em que, ao som de "Somewhere In America", de Jay-Z, várias miúdas de "hijab", de saltos altos e roupas garridas, andam de skate, comem gelados, sorriem e brincam, tiram "selfies". São jovens "realizadas" que "por acaso usam véu, que por acaso são muçulmanas, que por acaso são muito mais do que o seu véu", enfatiza Rattani, que cresceu em Queens, filho de pais de ascendência tanzaniana e indiana. Entretanto, o movimento cresceu, contando com quase 15 mil gostos no Facebook, pelo menos duas "hashtags" (#mipsters e #mipsterz, de onde recolhemos estas fotografias no Instagram) e uma "mailing list". À "Salon", Shahzad Ahsan, participante no grupo online, resumia que, com este movimento, os jovens estão "a dar um retrato mais diverso à comunidade muçulmana americana", proporcionando "um ambiente seguro, aberto e inteligente, onde as pessoas realmente fazem um esforço para terem uma mente aberta". Permite que estes jovens, já nascidos nos EUA como Rattani, que quando cresceram deixaram de ir à mesquita, encontrem outros como eles, "com um pé na tradição dos pais e outro nas últimas tendências da música, moda, arte, pensamento crítico, gastronomia", conclui a revista. Não é à toa que os jovens "gummies", palavra que designa estes novos "muçulmanos urbanos e globais", se assumem como consumidores emergentes, aos quais as grandes marcas não são indiferentes — e os "mipsterz" mais não são do que um sub-grupo. Procuram as tendências e "tudo o que é obscuro", mas, como escrevem na sua apresentação, sentem-se inspirados pelas escrituras divinas, profetas, imãs "esotéricos", por seres humanos que "procurem estados de transcendência". Entre a tradição e a contemporaneidade, entre a religião e o mundo lá fora: eis os "mipsterz" .